quinta-feira, 27 de março de 2014

Ler não é isolar-se

Nunca pensei na leitura como um isolamento, como uma forma de ficar comigo mesma, de evitar as pessoas e viver em um mundo à parte. Ao contrário, ler para mim sempre foi algo tão fascinante que busco constantemente dividir isso com outras pessoas. Por isso, não me incomodo de emprestar livros, mesmo que eles não voltem mais – a não ser que no meio esteja algum dos preferidos. Da mesma forma, sempre sonhei em ter uma biblioteca na sala da minha casa, para que o visitante pudesse contemplá-la e sentir-se tentado a pegar, manusear e querer ler um livro. Acho que para mim, uma tímida por natureza, os livros seriam uma porta pela qual eu pudesse chegar ao outro.
 

Não é à toa que escolhi ser jornalista e justamente em uma época na qual a profissão exigia saída a campo, ou melhor, não se concebia outra forma de fazer reportagem, a não ser indo às ruas, falando pessoalmente com as pessoas, verificar in loco os fatos. Hoje a realidade é outra. Muitos jornalistas estão fechados nas redações – às vezes até na própria casa –, fazem entrevistas via telefone e e-mail, consultam a internet. O “corpo a corpo” ficou restrito a poucos profissionais, infelizmente.
Mas se na profissão não busquei o isolamento, na leitura também não procuro a reclusão. Assim, na minha trajetória como leitora, iniciada na adolescência, a prática intensificou-se ainda mais há cerca de sete anos, na procura por Clubes de Leitura, espaços onde pudesse partilhar sensações dos livros lidos com outros leitores. Tive algumas experiências pelo caminho que acabaram não vingando, mas finalmente acabei me engajando em um clube assim, e em mais outro, e ainda em outros possíveis, dependendo do interesse. Vejo com bons olhos essas possibilidades e espaços, que se multiplicam em uma cidade como São Paulo.
E, nesse tempo todo, longe de me isolar, de me tornar uma pessoa reclusa, a leitura me fez conhecer mais pessoas, propiciou novas amizades, trouxe amigos queridos, ampliou os meus contatos e abriu um mundo novo – e, com ele, as portas da minha casa para uma vida social e cultural satisfatória.
Se ainda sobra tempo pra ler? Sim, claro, sempre. Não poderia ser diferente, e posso dizer que hoje leio muito mais do que antes, mas sem pressa, com atenção e um livro de cada vez. Sem esquecer as releituras, sempre necessárias e duplamente prazerosas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário