terça-feira, 29 de outubro de 2013

A biblioteca e o primeiro livro

Livro e biblioteca. Tudo junto e misturado. Um leva ao outro. O outro corresponde ao um. E unidos formam um todo.
 
Há exatos 203 anos a Real Biblioteca Portuguesa era transferida para o Brasil, criando assim a Biblioteca Nacional, a primeira do país, que foi instalada nas salas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, na cidade do Rio de Janeiro. Na época foi disponibilizado um acervo bibliográfico com mais de 60 mil objetos, composto por medalhas, moedas, livros, manuscritos, mapas, entre outros.  
 
Considerada pela Unesco uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo, a Fundação é também a maior biblioteca da América Latina. O acervo atual é estimado em cerca de nove milhões de itens.

Depois da instalação da biblioteca, o Brasil passou a editar livros, sendo o primeiro Marília de Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga, o mais versátil dos poetas do Arcadismo, movimento que se opunha ao Barroco. A primeira parte do livro foi publicada em Lisboa, em 1792, ano em que Gonzaga fora para o exílio em Moçambique, e descreve seu amor por Maria Dorotéa Joaquina de Seixas, brasileira com 17 anos, enquanto ele tinha 40.
 
O livro se divide em três partes, escritas em momentos diferentes da vida do poeta – em 1792, 1799 e 1812. A primeira parte com 33 liras que exaltam o bucolismo, a natureza e a vida conjugal; e a segunda com 38 e a terceira com nove liras e 13 sonetos. Ambas influenciadas pelas tristezas dos dias de cárcere, trazendo os devaneios sobre o passado.
 
A edição acima é de 1824. A que li é da coleção Biblioteca Folha, publicada em 1997 (ao lado), e poucas lembranças guardo dela, talvez seja o momento de reler, mas ainda assim, destaco um trecho do poema que julgo marcante:

Tu não verás, Marília, Cem cativos
tirarem o cascalho e a rica terra,
ou dos cercos dos rios caudalosos,
ou da mina da serra.
Não verás separar ao hábil negro
do pesadelo esmeril a grossa areia,
e já brilharem os granetes de oiro
no fundo da bateia.
Não verás derrubar os virgens matos,
queimar as capueiras inda novas,
servir de adubo á terra a fértil cinza,
lançar os grãos nas covas.
Não verás enrolar negros pacotes
das secas folhas do cheiroso fumo;
nem espremer entre as dentadas rodas
da doce cana o sumo.

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