quarta-feira, 3 de abril de 2013

Há 230 anos nascia Washington Irving

Anos atrás, quando assisti em vídeo A lenda do cavaleiro sem cabeça eu nem imaginava que o filme se baseava em uma obra literária e muito menos que essa obra fosse de autoria do escritor norte-americano Washington Irving. Pior, eu nem conhecia o autor.
 
Esse desconhecimento, no entanto, perdurou anos até que há cerca de um ano descobri que Washington Irving nasceu há exatos 230 anos, em 3 de abril, o mesmo dia em que eu nasci. A coincidência levou-me a saber mais sobre o escritor e sua obra e qual não foi minha surpresa quando me deparei com A lenda do cavaleiro sem cabeça (The legend of Sleepy Hollow) que, aliás, é bem diferente da adaptação feita para o cinema. O filme, caso raro, pareceu-me mais interessante que a obra, na verdade um conto em que o autor mistura lendas, mitos e tradições.
Escrita em 1820, a narrativa, segundo estudiosos e comentaristas, firmou um padrão e um modelo de escrita que marcou decisivamente as gerações de escritores norte-americanos que se seguiram. E isso se deve ao estilo adotado por Irving, que mescla fábula, lenda e narrativa de ficção, aliados a elementos do sobrenatural e do gótico.
 
Em A lenda do cavaleiro sem cabeça o desconjuntado, erudito e pedante Ichabod Crane, professor do vilarejo de Sleepy Hollow (vale sonolento), situado a 40 km ao norte de Manhattan, trava uma ”batalha” com o vigoroso e brincalhão Brom Bones pela mão da rica herdeira e bela donzela Katrina van Tassel. Como pano de fundo, a misteriosa lenda do cavaleiro sem cabeça, que povoa a imaginação dos moradores da região.
Talvez por se tratar de um conto, uma história curta, ou quem sabe pela inevitável comparação com a adaptação para o cinema de Tim Burton e estrelada por Johnny Depp, a história me decepcionou um pouco. Achei que a lenda do “cavaleiro sem cabeça” ficou obscurecida, quase relegada, só aparecendo mais ao final da história, sem atinar se é real ou não. Pode ser que esta seja a intenção do autor.
Mas para minha agradável surpresa, na mesma edição em que li A lenda..., havia outro conto de Irving: Rip van Winkle, esta sim uma narrativa que valeu a pena ler. A história é ambientada na época em que os Estados Unidos passam da condição de colônia do Reino Unido para nação independente, portanto um período marcante da história norte-americana.
 
Na época, van Winkle, um personagem folgazão, mas simpático e estimado por todo o povoado, tem em seu encalço a esposa, uma “fera” como é descrita e que lhe cobra uma atitude mais pró-ativa. Em um de seus passeios, van Winkle adormece próximo ao rio Hudson, em um lugar povoado por lendas, numa época histórica (colônia) e acorda em outra (nação independente), já velho e ultrapassado. Ao voltar para o vilarejo, tudo está diferente, até as pessoas são outras. E, quando questionado pelos moradores quem ele é, van Winkle responde:
– Só Deus sabe – exclamou, no limite da razão. – Eu não sou eu... eu sou outro... sou eu acolá... não... aquele é alguém metido nos meus sapatos. Eu era eu a noite passada, mas adormeci na montanha. Eles trocaram minha espingarda e tudo mudou... e eu mudei. Não posso dizer qual é o meu nome nem quem eu sou!
A narrativa é elegante, envolvente, bem traçada, unindo tradições, costumes e lendas de um povoado rural marcado pela colonização holandesa nos Estados Unidos.
Os dois contos são narrados, ou melhor, foram encontrados nos escritos de Diedrich Knickerbocker, velho cavalheiro de Nova York, muito curioso pela história holandesa da província e pelos costumes dos descendentes de seus primitivos colonizadores. Na verdade, um pseudônimo de Washington Irving, um personagem de ficção.
O autor nasceu de uma família nova-iorquina, abastada e grande, de origem escocesa. Formou-se em Direito, mas foi nas Letras que ganhou prestígio, possuindo uma vasta obra que se estende pelo jornalismo, crônica, ensaio, biografia, história e prosa de ficção, com destaque para narrativa curta.
 
Seu livro mais conhecido internacionalmente é a coletânea The skeath book of Geoffrey Crayon (1819-1820), influenciado pela obra do escritor escocês – e amigo pessoal - Walter Scott. A lenda do cavaleiro sem cabeça e Rip van Winkle  se encontram na coletânea.
Washington Irving morreu em 28 de novembro de 1859, em Tarrytown, onde foi sepultado no cemitério de Sleepy Hollow.

Nenhum comentário:

Postar um comentário