segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Viva o livro nacional!

No dia 29 de outubro comemora-se o Dia Nacional do Livro. Aqui minha homenagem a esse objeto que tanto prazer, conhecimento e fascínio exerce sobre nós, leitores.


 
Livro: a troca
 

Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena
os livros me deram casa e comida.

Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo;
em pé, fazia parede; deitado, fazia degrau de escada;

inclinado, encostava num outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá

dentro pra brincar de morar em livro.
De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto

olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois,
decifrando palavras.

Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto

mais íntima a gente ficava, menos eu ia me lembrando
de consertar o telhado ou de construir novas casas.

Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava
a minha imaginação.

Todo o dia a minha imaginação comia, comia e comia;
e de barriga assim toda cheia, me levava pra morar no

mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha-céu,
era só escolher e pronto, o livro me dava.

Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca
tão gostosa que - no meu jeito de ver as coisas -

é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no
livro, mais ele me dava.

Mas como a gente tem mania de sempre querer mais,
eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar

tijolo pra - em algum lugar - uma criança juntar com
outros, e levantar a casa onde ela vai morar.

(Livro: a troca, de Lygia Bojunga. In: Livro: um encontro).

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