segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Esses fantásticos livros voadores

Ainda às voltas com minha lista de leituras para 2012, acrescentando um livro, tirando outro, substituindo mais um, pois ainda não cheguei a uma definição e, pelo visto, persistirei no dilema, deparei-me com uma linda animação sobre livros. Recebia-a de um amigo, pelo facebook e, nem é preciso dizer, fiquei encantada.

Trata-se de um curta metragem, de 15 minutos, que concorre ao Oscar na categoria Curta de Animação. O título é The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore, que traduzido para o português fica assim: “Os Fantásticos Livros Voadores do Sr. Morris Lessmore”. Ele está rodando pela internet e, talvez, o leitor já tenha visto, mas acho que vale a pena falar dele aqui.

A animação, de acordo com a descrição do vídeo, é inspirada em acontecimentos como o furacão Katrina que passou por Nova Orleans em 2005, em Buster Keaton (ator e diretor de comédias mudas), no clássico Mágico de Oz e no amor pelos livros. A idéia é mostrar que um livro só ganha vida quando em contato com o leitor, quando ele é lido, e que a existência se renova a cada nova história que surge.

Para fazer o curta, o autor e ilustrador William Joyce e o co-diretor Brandon Oldenburgum utilizaram várias técnicas como miniautra, animação 2D e animação por computador. O resultado é mais que impressionante, é emocionante. Muito lindo, não tem como não se comover.

Confira o resultado abaixo ou, se preferir, acesse a página da animação: http://vimeo.com/35404908

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Férias com histórias infantis

A literatura infantil é tão farta, acessível e eterna que, mesmo não sendo mais crianças, os adultos têm vontade de consumi-las indefinidamente. Pelo menos é isso o que acontece comigo, assim, vez por outra, incluo esses livrinhos nas minhas constantes leituras, mesmo porque tenho amigas e conhecidos que são ilustradores, escritores e pesquisadores de literatura infantil.

No final do ano passado, Gil, uma das minhas amigas que escreve essas histórias e tem um blog lindo sobre elas - http://tododiaumahistorinha.blogspot.com/ – deixou dois dos livrinhos de sua estante passarem férias em minha casa: Pedro e Tina – uma amizade diferente, de Stephen Michael King, e A verdadeira história de chapeuzinho vermelho, com texto e arte de Agnese Baruzzi e Sandro Natalini, ambos publicados pela Ed. Brinque-Book. Ontem, porém, os livros se despediram de mim e retornaram às mãos e à estante da dona.

Em Pedro e Tina – uma amizade diferente a história contempla duas crianças distintas, um menino e uma menina: Pedro, um garoto que faz tudo torto, têm os cordões dos sapatos desamarrados, veste roupas sem combinar, escreve tudo errado e se faz acompanhar de um cão; já Tina, é uma garota certinha, que se veste com cuidado, tem uma boa caligrafia e boa escrita e anda sempre com seu guarda-chuva a tiracolo.

Um dia eles se encontram e se encantam, cada qual, com o modo de ser do outro. Aos poucos as características de um vão sendo assimiladas pelo outro e eles se tornam amigos inseparáveis. Muito fofo.

O autor, Stephen Michael King, é também ilustrador e tem uma sólida carreira dedicada à literatura infantil.

A verdadeira história de chapeuzinho vermelho é uma história pouco convencional, é a história por trás da história oficial, por isso, muito divertida e interessante. Ela se passa antes daquela tradicional que já conhecemos.

O lobo mau, vilão da história, está cansado da sua má fama, então escreve uma carta, toda cheia de erros, a chapeuzinho vermelho, pedindo para que ela faça dele um ser melhor. Generosa e de bom coração, a menina começa então a ajudá-lo, com conselhos, ensinando uma nova dieta baseada em vegetais, a ser educado e a escrever bem.

O lobo acaba se transformando em um ser gentil e agradável que, aos poucos, vai conquistando a vizinhança, tornando-se bastante popular no lugarejo, uma verdadeira celebridade. Aí a história começa a se inverter porque, chapeuzinho enciumada, resolve reconquistar seu lugar da bozinha da região.

Além das graciosas ilustrações, o livro apresenta efeitos e texturas especialmente criadas por Natalini, mestre do design gráfico italiano. O livro promove uma gostosa interação com bilhetes, pop-ups e tecidos aplicados. Uma delícia!

Neste dia em que se comemora os 180 anos do nascimento de Lewis Carroll, escritor britânico mundialmente conhecido pelo clássico Alice no país das maravilhas, nada melhor do que destacar a literatura infantil. Que ela possa estar sempre presente nas nossas vidas, seja na infância, na adolescência, na idade adulta ou ainda na velhice.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Em São Paulo com o urbenauta

Quando eu era adolescente sonhava ser missionária em terras sofridas e distantes, fora do Brasil, ou ainda mais perto, no sertão, participando do Projeto Rondon, uma iniciativa do governo brasileiro para promover o contato de estudantes universitários voluntários com o interior do país. O Projeto durou de 1967 a 1989, e em 2005 foi relançado.

Seja como for, na época gostava também de ler os romances regionalistas de José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz e João Cabral de Melo Neto que falavam da vida dura no nordeste brasileiro, da seca, da fome. Compadecia-me do povo e queria fazer alguma coisa.

O tempo passou, acabei focando em outros interesses, mas sem deixar de me informar, vez por outra, da situação das terras mais carentes, e gostando ainda daquela literatura, uma das melhores das quais tenho lembrança, por isso volto a ela sempre que posso, porém... depois que fui morar, por um período, em Indaiatuba, interior de São Paulo, acabei me descobrindo extremamente urbana.

Anos depois, de volta à capital paulista, onde nasci, minha vontade era conhecer tudo aquilo que ela proporciona em cultura, lazer, novos horizontes. E, apesar do caos urbano, da violência, da poluição e de todas as asperezas e conflitos, a identificação foi rápida: amo São Paulo e não consigo viver mais sem ela.

Assim, todas as vezes que tirava férias do trabalho, ao invés de viajar eu preferia ficar na cidade, explorando seus recantos, seus mistérios, suas belezas escondidas. É mais ou menos aquilo que faço se mudo de casa ou de trabalho, um reconhecimento do terreno para saber o que ela oferece, seja uma farmácia, um mercadinho, uma padaria, uma biblioteca por perto (há uma próxima ao meu trabalho e outra na região de casa).

Hoje, descobri também o prazer das viagens fora da capital e do estado, mas sempre reservo alguns dias para aproveitar minha cidade, prosseguindo no meu desbravamento por solo paulista. Por isso não entendi como até hoje não tinha lido Expedições urbenauta – São Paulo: uma aventura radical, de Eduardo Emílio Fenianos, publicado em 2002 pela Univer Cidade. Ainda mais porque conhecia o livro e o tinha na minha lista de leituras há anos. São coisas da vida, mas este ano e com a proximidade do aniversário da cidade resolvi me aventurar nessa viagem literária para encontrar uma São Paulo que há muito ansiava por ver.

Já vi que este post vai ficar longo, mas não tem outro jeito, falar de São Paulo é se perder no tempo e no espaço. Ainda mais se este espaço abrigar 256,1 quilômetros de selva real, que inclui a Serra da Cantareira e os rios Juqueri, Tietê, Pinheiros, Embuguaçu, Capivari, Ipiranga e as represas Billings e Guarapiranga, além de 96 distritos da selva de pedra, num total de 1.528,5 quilômetros quadrados, exatamente a quantidade percorrida por Eduardo na aventura, totalizando 120 dias dentro de São Paulo.

O projeto teve início em 1999, depois que Eduardo desbravou Curitiba, em 1997. O objetivo era explorar as selvas reais e de pedra da maior cidade do Brasil, chamar a atenção dos moradores e da sociedade para os problemas de uma metrópole e, assim, tentar encontrar soluções.

Criada por Eduardo, a palavra urbenauta (urbe = cidade; nauta = marinheiro, marujo, navegador, navegante) significa o navegante da cidade, aqui o viajante em sua própria cidade. Embora tenha feito a viagem sozinho, ele contou com a participação de 21 pessoas no projeto. Assim, foram criadas roupas próprias para o desbravamento e um carro, chamado urbenave Gulliver, um 4x4 readaptado, serviu como transporte.

A meta era percorrer todo o trajeto traçado, comer e dormir na floresta e às margens dos rios explorados, nunca voltar para casa, em hipótese alguma, ficar pelo menos um dia em cada distrito, onde deveria conseguir pouso e comida, de preferência em residências para conhecer o modo de vida das pessoas e estreitar relacionamentos, fotografar, filmar, fazer anotações. Mostrar lugares inusitados e diferentes de São Paulo, olhar para a cidade com outro olhar, perceber que o feio não é tão feio quanto pintam e que o bonito nem sempre é tão belo assim.

Eduardo conta que na periferia as ruas são movimentadas, há gente nas calçadas, o comércio é forte; já nos bairros mais ricos, as ruas são impecavelmente vazias, talvez por isso recebeu maior acolhida nos lugares carentes. Ele conseguiu pousada na selva de pedra praticamente todos os dias, com exceção de um, em que teve de dormir na rua, uma experiência que jamais poderá esquecer, e que ele conta no trecho a seguir:

A primeira novidade de uma noite na rua foi sentir os passos das pessoas que caminham na rua, dentro dos meus ouvidos, passando ao lado da minha cabeça. A situação desesperadora é a de não saber se aqueles que caminham em minha direção seguirão seu rumo, se caminham em passos que vêm para ajudar ou se seguem em passos que vêm para provocar algum mal, destruir, assaltar ou atear fogo em um corpo que pode ser um mendigo ou um amontoado de lixo (para certas pessoas isso tanto faz) como aconteceu com um índio que dormia em uma rua, de Brasília, a capital do Brasil. Lembrei muitas vezes deste episódio.

Do que fogem os passos que correm rápido na madrugada? O que pensam os passos que andam e, de repente, param ao meu lado? Há passos que cheiram bem e passos que cheiram mal. Passos masculinos e passos delicadamente, escandalosamente, indiscretamente femininos. Minha noite de sono começou com passos. Medo de passos. Em seguida veio o som das motos e dos carros acelerando e a música. A música de quem está voltando da balada e nem, imagina estar atrapalhando alguém que tenta dormir na rua.

Nos 120 dias em que esteve na rua, explorando o terrítório de São Paulo, Eduardo conheceu recantos inacreditáveis, como o belo rio Capivari; navegou na poluição do Tietê e de outros rios; passou por favelas e bocas de tráfico; conversou com bandidos, mendigos, ex-presidiários, prostitutas e trabalhadores e se hospedou na casa de alguns deles; aportou na Aldeia Indígena Guarani Tenon Doporã, perto de Parelheiros; viu ricos e pobres convivendo lado a lado em alguns bairros; conseguiu abrigo na casa de Ana Maria Braga e do sertanista Orlando Vilas Boas, ainda vivo na época; presenciou a solidariedade na periferia; participou de mutirão; passou fome tendo de viver por um mês com um salário mínimo; se sentiu só no centro de São Paulo; viu casas cobertas de grades e outras com muros baixos; praticou a semaforopoesia e semaforofilosofia (*); e aprendeu a pedir, a ouvir, a falar e a conviver com diferentes tipos de pessoas. Tudo isso, com certeza, fez dele uma pessoa melhor, com mais facilidade de chegar ao próximo.

Mas em alguns locais o urbenauta teve de se desdobrar para fugir de situações perigosas e, por duas vezes teve uma arma apontada para ele. Com humildade e cuidado no jeito de falar, conseguiu o respeito da turma barra pesada que encontrou. Ouviu suas histórias, não julgou, apenas colheu material o suficiente para ajudar a melhorar a vida das pessoas. Em outros pontos não precisou se contorcer tanto, pois como a aventura foi acompanhada pelo jornalismo da televisão, algumas pessoas já haviam visto e ouvido falar do urbenauta.

A última região a ser desbravada foi a Zona Leste. Ali, já cansado, com dores no pescoço e no corpo, Eduardo até quis desistir, mas extraindo de si forças até então desconhecidas, levou até o final, com despojamento, sua trajetória. Exemplo disso está no trecho:

Senti na pele como a felicidade pode estar nas coisas simples e como é relativa. No início desta semana felicidade para mim foi encontrar um lugar para dormir e tomar um banho quente, em um dia de frio e chuva, em uma casa de invasão, ao lado de um boca de tráfico, no Jardim São Carlos, bairro da Vila Jacuí.

No momento em que fui aceito na casa, ao tomar o banho quente, ao me deitar em meu saco de dormir, embaixo de quatro paredes, descobri como alguém pode sorrir morando em uma favela.

A aventura é emocionante e, por vezes, me peguei chorando, totalmente entregue aos relatos de Eduardo. O único senão do livro é a falta de fotografias que ajudariam a ilustrar melhor a narrativa, mas nada que prejudique o trabalho. Descobri, depois, que há outro livro repleto de fotos de São Paulo, como um roteiro turístico e histórico da cidade.

Eduardo Fenianos, que é formado em Comunicação Social e Direito e tem pós-graduação em Psicopedagogia e extensão universitária em Antropologia Social, prossegue com seu trabalho de urbenauta, ministrando palestras, mas, acima de tudo, se aventurando por outras cidades do Brasil, escrevendo livros e produzindo vídeos, fotos e mapas, todos editados pela Univer Cidade. Para saber mais acesse http://www.urbenauta.com.br/

No aniversário de São Paulo, a melhor maneira de homenagear a cidade é conhecê-la e, para conhecê-la, nada melhor do que desbravá-la numa nova leitura. O resultado, sem dúvida, é recompensador. Como Eduardo afirmou em sua obra “São Paulo é o melhor livro que li”.

(*) Semaforopoesia e semaforofilosofia é a forma que Eduardo encontrou para driblar o tempo de parada nos semáforos de São Paulo, como este pequeno poema produzido por ele durante a viagem:

Verdade Cidade
Cidade Verdade
Veracidade
Verdacidade
Será mentira
Será verdade.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Ilha Deserta – HQs


E pegando carona nessa viagem de Ilha Deserta, dos livros que levaríamos como companheiros, além de outras necessidades e tudo o mais, é claro, pensei em fazer minha listinha também. Mas como já fiz um post sobre o assunto (veja aqui http://migre.me/7BRxd) resolvi, desta vez, fazer uma lista de HQs que levaria para uma ilha deserta, se bem que naquela que fiz anteriormente cheguei a colocar uma história em quadrinhos na relação.

Seja como for, esta lista, agora, é só de HQs, mas não é tão extensa quanto a da Heloísa Seixas em O Prazer de Ler. A minha é mais modesta, restrita a dez títulos, porque, afinal, não vou ficar tanto tempo assim em uma Ilha Deserta, só um período curto.

Vamos à lista:

Palestina, de Joe Sacco, claro! E os dois volumes que tenho: Palestina – Uma nação ocupada e Palestina – Na faixa de Gaza. Trata-se da reportagem em quadrinhos sobre o conflito palestino e israelense. Um trabalho bem feito de Sacco, que é jornalista e cartunista, por ouvir também o lado palestino do conflito.

Gen Pés Descalços, de Keiji Nakazawa, em 4 volumes: Uma história de Hiroshima, O dia seguinte, Vida após a bomba e O recomeço. A história é baseada nas experiências do autor, ele um sobrevivente da bomba lançada em Hiroshima. A HQ consegue retratar, com realismo e emoção, a tragédia daqueles dias. Triste e belo.

Maus, de Art Spiegelman. Outra HQ autobiográfica. Nesta, o autor conta a história de seus pais, que eram judeus, no campo de concentração nazista e a vida após ele. Um trabalho interessante por retratar diferentes grupos étnicos por meio de várias espécies de animais.

Watchmen, escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons. A trama se passa no contexto da Guerra Fria e em via de declarar uma guerra nuclear com a União Soviética. A trama envolve um grupo de super-heróis do passado e do presente e o misterioso assassinato de um deles. Um texto primoroso.

Daytripper, de Fábio Moon e Gabriel Bá. Conta a história de Brás, brasileiro do sul do país, escritor e editor de obituário de um jornal. Destacando diferentes momentos da vida do personagem que tenta ainda fugir da sombra do pai. Trabalho poético e premiadíssimo dos gêmeos quadrinistas brasileiros.

Um Contrato com Deus, de Will Eisner. Graphic novel que consiste de quatro contos, todos situados em um cortiço no Bronx, nos anos de 1930. As narrativas são separadas, mas todas ligadas pelo tema da experiência imigratória. Ainda não li, mas está na minha lista deste ano.

Sandman, de Neil Gaiman. Os 10 volumes. As histórias descrevem a vida de Sonho, o governante do Sonhar (mundo dos sonhos) e sua interação com o universo, os homens e outras criaturas. Ainda estou completando a coleção. Faltam os dois primeiros volumes. Estou louca para ler.

O Fotógrafo, de Guibert, Lefèvre, Lemercier. Dividida em três volumes, a obra traz o relato pessoal da experiência do fotógrafo Lefèvre no Afeganistão, com as dificuldades e perigos enfrentados por ele e pela equipe de Médicos Sem Fronteiras. Mistura fotos em preto e branco com quadrinhos. Embora os livros estejam na minha “estante”, ainda não os li, mas também é prioridade.

Sin City, de Frank Miller. Série de HQs e publicadas no formato de film noir. As histórias são situadas na cidade fictícia de Basin City ou Sin City, conhecida pelos policiais covardes, preguiçosos e corruptos. Há ainda a Cidade Velha, habitada por prostitutas trazidas durante a Corrida do Ouro para agradar os mineiros. Li apenas um livro e assisti ao filme produzido, aliás um dos melhores que vi adaptados dos quadrinhos. Muito booom!

Che – Os últimos dias de um herói, de Hector Oesterheld e Alberto Breccia. Biografia de Che Guevara, lançada originalmente em 1968, na Argentina, três meses após a morte do guerrilheiro, ajudando a popularizar o mito latino-americano. Ainda falarei mais sobre esta HQ em futuros posts, pois ainda não li.

Ah, como eu passei Palestina para esta lista de HQs, ficou faltando um livro na outra lista. Então me sinto liberada para levar mais um livro naquela leva, e este seria O filho eterno, de Cristovão Tezza.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ler é um prazer

Uma aventura, uma viagem, um aprendizado, uma amizade, uma cumplicidade. Ler é tudo isso e muito mais, é ampliar a visão de mundo, é compartilhar, é sonhar. Por isso, toda vez que fico sabendo de um livro sobre o assunto – a leitura em si – fico ávida para lê-lo e assim poder suspirar por essa paixão.

Foi o que aconteceu quando li, no twitter a Amanda, do blog Primeiro Livro ( http://www.primeiro-livro.com/ ), comentários sobre um pequeno livrinho que tratava justamente do prazer de ler e cujo título era este mesmo O prazer de ler. Claro, corri para comprar e mais do que depressa comecei a ler.

Escrito por Heloísa Seixas (autora do belíssimo ensaio pessoal O lugar escuro), o livro é uma petit jóia, em que ela compartilha muito da sua vivência como leitora e escritora, contando casos deliciosos e inusitados que dizem muito sobre sua experiência literária.

Dividido em 11 capítulos, O prazer de ler fala, entre outros tópicos, do livro amado, das obras-primas que poucos leram, dos lugares onde se guarda e lê livros, do mistério das bibliotecas, dos livros que marcaram e marcam sua vida e do desafio de ler livros grossos e difíceis. Neste último vale transcrever o trecho em que ela fala da leitura de Moby Dick, do escritor americano Herman Melville:

... Para quem nunca leu Moby Dick, é estranho ficar sabendo que o personagem-título só aparece na página 553, a trinta páginas do fim! E que Melville interrompe a toda hora a ação para desfiar um verdadeiro tratado de cetologia (estudo das baleias), como quando explica, ao longo de um capítulo inteiro, os mínimos detalhes sobre a linha usada na pesca dos cetáceos. Há quem fique frustrado no fim do livro, quando o duelo entre Moby Dick e o capitão Ahab acaba tão rápido, depois de uma espera, por parte do leitor, de mais de quinhentas páginas. Mas isso não me aconteceu. Admito que tive de me valer de uma certa disciplina para não pular as partes técnicas sobre as baleias, mas, quando fechei o livro, a sensação que ficou em mim foi muito interessante: era como se eu tivesse atravessado todos os mares junto com a tripulação do Pequod ao longo de quatro anos, sofrido com aqueles homens – Ismael, Queequeg, Starbuck –, enfrentado o calor e a calmaria, a solidão e o desespero. Talvez, no caso de Moby Dick, a aridez do livro sirva, afinal, para nos transportar para dentro da história – e esse não é o maior mérito da literatura?

Dessa forma, sempre sobre uma visão muito pessoal, Heloísa fala dessa paixão pela leitura e, no final, menciona uma lista de livros, com breves comentários, que levaria para uma ilha deserta, um clichê, na certa, mas para quem gosta a relação de títulos é um prato cheio: nada menos do que 68 obras, divididas em literaturas inglesa e americana, francesa, portuguesa e brasileira, e outras literaturas, abrangendo russa, alemã, espanhola etc.

Alguns dos títulos relacionados já li e gostei muito, outros estão na minha lista de livros para ler, e outros, ainda, foram acrescentados depois da leitura do livro de Heloísa, como Ela, de Henry Rider Haggard, Trilogia de Nova York, de Paul Auster, Carmen – Uma biografia, de Ruy Castro e Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso.

Mais do que um livro pessoal, O prazer de ler é, na verdade, um guia, e já se tornou meu livro de cabeceira, ao qual vou e volto quase todos os dias.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Primeira compra do ano

Depois da mudança e avaliando a situação em que se encontram meus livros, guardados em uma caixa no canto próximo à janela do meu quarto, prometi a mim mesma, no início do ano, não comprar mais nenhum exemplar até que consiga uma estante decente para acomodá-los.

É, promessa é dívida, e essa terei de pagar essa. Eu até tentei me segurar, mas bastaram apenas alguns dias do Ano Novo, cinco para ser mais exata, para quebrar a promessa que fiz. Não resisti e acabei fazendo uma compra via internet tudo por causa de uma promoção da BestBolso, via Livraria da Travessa, que para comemorar os 80 anos do escritor italiano, Umberto Eco, colocou algumas de suas obras com preços pra lá de tentadores. Não deu outra, me perdi e acabei cedendo.

Os livros chegaram hoje e, se ainda tinha remorsos, eles acabaram quando me deparei com a joia que se mostrou à minha frente. Trata-se de um Box (edição de bolso) com três obras do escritor: A Ilha do Dia Anterior, Baudolino e O Pêndulo de Foucault. Coincidência ou não, todos livros que queria ler do autor e que figuram na minha lista de leituras há um bom tempo.

Agora é encaixá-los na minha programação de leituras, que não é lá muito rígida, porque vira e mexe eu alterno as posições e passo para frente o que estava no final e deixo para o final o que estava na frente. Mas espero fazer isso logo, aproveitando o encanto do momento e a proximidade dos recém-chegados livros

Pois é, já comecei o ano gastando. Vamos ver onde vou parar até o final de 2012.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Procura-se uma estante-biblioteca

Meus livros finalmente saíram do armário! Quer dizer, já não estão mais acomodados – e apertados – no meu guarda-roupa, mas isto não significa que eles tenham encontrado um lar, ou melhor, a moradia ideal em uma estante bem montada, que mais parece uma biblioteca. Ainda não foi desta vez.

Enfim, mudei de casa, depois de mais de um ano ensaiando a retirada. Despachei meu antigo guarda-roupa que já não era sem tempo e comprei um novo, mais bonito e estiloso. O problema é que ele é menor, ou seja, uma boa parte do que continha no anterior não cabe neste, incluindo os meus livros.

Agora, depois de permanecerem por meses e meses espremidos entre minhas roupas e objetos, os meus livros estão amontoados em uma caixa de mudança em um dos cantos do meu novo e pequeno quarto. Até quando? Eu não sei, coitados...

Estou à procura de uma estante para livros, mas não é uma estante qualquer. Aí é que está a dificuldade. Ela não pode ser muito grande, pois como disse o quarto é pequeno, mas também não pode ser pequena, porque senão não posso acomodar todos os livros que tenho e quero ter. E olha que não sou compradora compulsiva assim e tenho o hábito de frequentar bibliotecas e emprestar livros, mas alguns desejo realmente ter.

A empreitada tem sido infrutífera, pois ao dar uma rápida pesquisada na internet e nas lojas mais populares não encontrei nada que me agradasse. Estante para livros é difícil de achar, o que tenho visto são estantes que se destinam ao mesmo tempo a livros, objetos de decoração e aparelhos de som e TV, o que significa que o espaço para os exemplares é exíguo, pelo menos para mim.

Muitos podem achar essa uma tarefa fácil e que na verdade eu esteja complicando. Tá, sou mesmo esquisita, mas, o que quero é uma estante quase biblioteca. Só fiquei mais tranquila e me considerando normal quando, admirada, li no último final de semana um artigo do economista Claudio de Moura Castro, em sua coluna na revista Veja, intitulado “Onde comprar estante de livros? (http://migre.me/7tMeg) Parece que ele escreveu para mim.

Ali, Moura Castro fala exatamente dessa dificuldade em encontrar estante de livros, situação pela qual passou várias vezes, tendo, portanto, de improvisar um móvel para acomodar seus livros. Segundo ele, há estantes para tudo, menos para livros, e as poucas que encontrou são horrendas e mal-acabadas, para poucos volumes. Se quiser ter uma de acordo e com bom espaço, o jeito é apelar para marceneiros e pagar o preço (alto) pelo trabalho.

O que isto significa isso? Que o brasileiro não possui livros suficientes para levar as empresas a investirem na oferta de estantes-bibliotecas? Bom, pelo menos é essa a conclusão do economista que também pesquisou sites em países ricos, descobrindo que a realidade por lá é bem outra.

Não é difícil entender essa situação, mas nem por isso devemos nos acomodar com ela. Infelizmente a média de leitura no Brasil é de 1,8 livro por habitante/ano, abaixo da média de países como a Colômbia, que é de 2,4, como informa Moura Castro em seu artigo. O que se faz urgente é estimular o hábito da leitura, cada vez mais entre os brasileiros, a começar na infância para que, ao chegar a idade adulta, essas pessoas já sejam leitores convictos.

Acredito no poder da internet para a disseminação da leitura. E o trabalho dos blogs literários têm contribuído nessa tarefa, mas ainda é pouco. Por conviver nesse mundo, tenho a ilusão de achar que as pessoas leem muito, pois estou sempre em contato, via internet, e tenho amigos reais que têm a leitura por hábito. Mas quando percebo que ao meu redor, no trabalho e na minha própria casa, as pessoas que estão mais próximas não são leitoras assíduas aí fico alarmada e vejo que ainda há um longo caminho a percorrer.

Enquanto isso vou escrevendo e procurando pela estante e sonhando com o dia em que verei todos os meus livros acomodados confortavelmente e dignamente se exibindo para mim e quem mais desejar olhar. Mas, sem dúvida, quero mais que eles sejam um convite à leitura.


Foto tirada aqui http://migre.me/7tOFm

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Comemorações literárias em 2012

Sou muito ligada em datas comemorativas, alguns já devem ter notado, pois vez ou outra cito alguma no blog. No início do ano passado fiz um post falando sobre calendário literário, com destaque para aquelas datas – definidas e consagradas – do mundo da literatura. Se quiser conferir veja aqui http://leituraseobservacoes.blogspot.com/2011/01/calendario-literario.html

Neste ano, em razão da quantidade de centenários que serão comemorados, resolvi fazer uma pesquisa e saber quais outras datas importantes serão celebradas em 2012 no universo literário.

No post anterior, por exemplo, destaquei os 120 anos do nascimento de J. R. R. Tolkien, um dos mais notáveis escritores de livros de fantasia, autor de obras belíssimas como a trilogia O Senhor dos Anéis, O Hobbit e O Silmarillion.

Mas isto é apenas o começo, porque 2012 será marcado pelo centenário de dois dos mais brilhantes escritores brasileiros: Jorge Amado, em 10 de agosto, e Nelson Rodrigues, em 23 de agosto.

Os 100 anos de Jorge Amado já começaram a ser comemorados com o lançamento do filme Capitães da Areia, da cineasta e neta do escritor Cecília Amado, que foi adaptado da obra de mesmo nome. Há também uma nova montagem da peça Dona Flor e seus Dois Maridos e o lançamento de uma caixa, pela Companhia das Letras, com quatro livros das mulheres do escritor, entre outras programações.

Para Nelson Rodrigues, a expectativa é que a Nova Fronteira, que edita sua obra, publique releituras de suas peças e realize lançamentos de edições populares e de outros textos do autor.

Fevereiro é um mês quente: o dia 2 será marcado pelos 130 anos do nascimento de James Joyce, romancista, contista e poeta irlandês, autor de obras memoráveis, como Ulisses, que conta um dia na vida do agente de publicidade Leopold Bloom. O livro, inclusive, ganhará uma tradução nova no Brasil, feita por Caetano Galindo, publicada pela Penguin-Companhia das Letras.

Já no dia 7 de fevereiro será comemorado o bicentenário do nascimento de Charles Dickens, o mais popular romancista inglês da era vitoriana, autor de Oliver Twist e David Copperfield, entre outras obras.

No Brasil o mês de fevereiro terá como destaque os 90 anos da Semana de Arte Moderna, que aconteceu nos dias 13, 15 e 17 do ano de 1922, e que trouxe uma renovação de linguagem, ruptura com o passado e criação do modernismo. Nomes como Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida, entre outros, foram os precursores dessa tendência. A empreitada será lembrada no livro 1922, a Semana, do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, publicada pela Companhia das Letras.

Outras datas a serem lembradas este ano são os 100 anos da morte do escritor irlandês Bram Stocker (20 de abril), o conhecido autor de Drácula; os 100 do nascimento do escritor Lúcio Cardoso (14 de agosto), autor de Crônica da Casa Assassinada; os 90 anos do nascimento do escritor português José Saramago (16 de novembro), autor de A Viagem do Elefante, um dos melhores livros que li no ano passado e dispensa comentários; os 90 anos da morte do escritor francês Marcel Proust (18 de novembro), autor de Em Busca do Tempo Perdido; e os 50 anos da morte da escritora e jornalista brasileira Patrícia R. Galvão (12 de dezembro), a Pagu, também grande nome da Semana de Arte Moderna e uma mulher a frente do seu tempo.

Mas de todas as datas, sem dúvida, uma das mais aguardadas e que deverá ser muito festejada é os 110 anos do nascimento do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, em 31 de outubro. Drummond, aliás, é o homenageado deste ano da 10ª edição da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, que acontecerá de 6 a 10 de julho.

Os livros de Drummond também ganharão nova edição, assinada pela Companhia das Letras, editora que tem o direito de publicar sua obra poética há um ano. A primeira a chegar às livrarias será A Rosa do Povo. Outros títulos deverão ser lançados ainda este ano.

Talvez tenha esquecido uma ou outra data, mas acredito ter reunido as principais, pelo menos as que me batem mais fundo. Em todo caso, no decorrer do ano vamos descobrindo – e comemorando.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Lembrando de O Hobbit e Tolkien

Há dez anos passei por um período bastante delicado na vida. Era o início do ano de 2002, quando me vi desempregada, depois de oito anos trabalhando na mesma agência. Para completar, poucos meses depois tive de passar por um sério tratamento de saúde, ao ser diagnosticada com câncer de mama.

O cenário não era nada bom, mas a vida precisava ser tocada e, apesar do período difícil, felizmente ele terminou bem, porque exatamente um ano depois já estava recuperada e de emprego novo.

Quando lembro daqueles dias, recordo-me das artimanhas que fazia para o tempo passar e não deixar a peteca cair. Estas consistiam em anotar planos, ideias, listas de livros e filmes a ler e ver, passeios a fazer, cursos a frequentar, enfim, um arsenal de projetos que me ajudavam a olhar para o futuro.

Foi nessa época que me caiu às mãos O Hobbit, o livro de fantasia de J. R. R. Tolkien, publicado pela primeira vez em 1937 e que conta a história de Bilbo Bolseiro, um pacato hobbit que, instigado pelo mago Gandalf, sai em uma aventura junto com 13 anões para recuperar o tesouro destes, roubado por um dragão chamado Smaug.

A história antecede a saga O Senhor dos Anéis, de Tolkien, cuja narrativa concentra-se na destruição de Um Anel, que fora encontrado por Bilbo ainda em O Hobbit, e que permaneceu com ele por muitos anos.

Na aventura de O Hobbit, Bilbo junto com os 15 anões, cujo líder é Torin, atravessam as Montanhas Sombrias, são perseguidos por orcs, passam pela Floresta das Trevas, encontram elfos, vêem a Cidade do Lago e finalmente chegam à Montanha Solitária, onde o dragão dorme. Lá, Bilbo terá de enfrentar seu maior desafio para resgatar o tesouro.

Ler essa maravilhosa aventura fez-me esquecer, na época, as agruras do tratamento e os percalços pelos quais passava. Sentia-me dentro da história e fiquei encantada com as descrições, os perigos, a coragem e a persistência dos personagens, sobretudo de Bilbo e de Torin.

O autor, J. R. R. Tolkien (John Ronald Reuel Tokien), foi um escritor notável e, se vivo, completaria no dia 3 de janeiro 120 anos. Nasceu na África do Sul, mas passou a viver na Inglaterra, terra natal de seus pais, aos três anos de idade, sendo, portanto, considerado um escritor inglês. Foi professor universitário, poeta e filólogo e, apaixonado por línguas, criou diversas, que foram perpetuadas, sobretudo em suas fantásticas obras. Tinha grande conhecimento dos mitos germânico-nórdicos, dos quais extraiu inspiração para suas histórias e personagens.

O Hobbit, que terá uma adaptação para o cinema nas mãos do diretor Peter Jackson, o mesmo que dirigiu a trilogia O Senhor dos Anéis, e deverá estrear ainda este ano, é mesmo uma delícia. E ganhou uma resenha bem bacana da Priscila Wood em seu blog The Killing Words (http://thekillingwords.blogspot.com/2011/12/hobbit.html#comment-form). Vale a pena conferir. Aliás, é uma excelente dica para começar bem 2012.