terça-feira, 29 de novembro de 2011

Pra que serve a Poesia?

Há momentos na vida em que paramos para pensar na razão de ser e de existir. É difícil encontrar uma resposta definitiva e satisfatória, mas ainda assim tentamos, buscando sempre encontrar um sentido nas pequenas coisas do cotidiano e, por meio delas, entender quem somos e o porquê de estarmos aqui.

Essa busca, por exemplo, pode ser empreendida por meio da palavra e do sentimento a ela atribuído. Nesse campo, entra a literatura e, em seu bojo, a Poesia, uma forma de expressão artística que exprime sensibilidade e beleza nas situações mais duras e ásperas da vida.

E é exatamente este o mote de Poesia, filme sul-coreano de Chang-dong Lee, que esteve por pouco tempo em cartaz em São Paulo, no primeiro semestre deste ano, mas que tive a oportunidade – e o prazer – de assistir no último dia 28, na Sessão Averroes, da Cinemateca Brasileira.

Fruto de uma parceria entre a Cinemateca, o Hospital Premier/Grupo MAIS e a OBORÉ, a Sessão Averroes é um projeto que debate a condição humana, a vida e sua terminalidade. E conta com o apoio da Faculdade de Medicina de Itajubá (MG), do Instituto Paliar e da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Acontece sempre na última segunda-feira de cada mês e destina-se, principalmente a profissionais e estudantes da área de medicina e saúde.

O projeto tem esse nome em homenagem ao filósofo espanhol Averroes, considerado um dos pais da medicina.

Para fechar a temporada de 2011, o filme escolhido foi Poesia, seguido de um debate que contou com a participação da médica geriatra Cláudia Burlá, da médica Maria Goretti Sales Maciel e da jornalista e escritora Eliane Brum, que em março deste ano escreveu um belo texto sobre a fita para a coluna da revista Época. Veja aqui: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI217823-15230,00-COMO+EU+ENCONTRO+A+POESIA.html

O filme gira em torno de Mija, uma senhora de 66 anos, que mora com o problemático – e calado – neto adolescente e, apesar da idade, trabalha como cuidadora de um homem incapacitado. Sentindo dores no braço, Mija procura um médico e confessa ao doutor estar também com problemas para lembrar o nome das coisas. Preocupado mais com as falhas na memória do que com a dor no braço, o médico sugere a Mija consultar-se em um hospital especializado, onde acaba descobrindo que está com o Mal de Alzhemeir.

Paralelo a isso, Mija fica sabendo que seu neto e os cinco amigos deste estão sendo acusados de ter violentado sucessivamente Agnes, uma garota na escola. A menina, filha de uma camponesa pobre que tem mais um filho, acaba suicidando-se ao pular de uma ponte. Os pais dos garotos envolvidos, a direção da escola e a imprensa tentam abafar o caso e Mija é conduzida a se unir a eles.

E meio às tempestades que surgem à sua frente, a senhora lembra que, quando criança, um professor profetizou que ela seria uma poetisa. Mija então decide frequentar um curso de Literatura e estudar poesia para, por meio dessa expressão, não esquecer das palavras, descobrir a beleza na aridez da vida e, assim, conhecer-se a si própria.

No curso, os alunos são convidados a apresentar, ao final, um poema. Mjia se desespera por não conseguir formar um poema, mas vai anotando em um caderninho suas impressões a cerca do que vê, presencia e sente. E, aos poucos, começa a formar suas palavras.

Depois do filme, não pude ficar até o final dos debates, apenas assisti a apresentação inicial das convidadas. O suficiente, porém, para concluir que o filme começa um ciclo e termina nesse mesmo ciclo, que os caminhos de Agnes e Mija se entrelaçam, conduzindo as escolhas desta. E mais: que a Poesia está presente nas mínimas coisas, dando sentido à vida. Basta prestar atenção.

3 comentários:

  1. Vi este filme em DVD há umas semanas atrás e senti-me comovida. Por várias razões, mas em especial por esse reconhecimento de que todos podem sentir o lado poético da vida.E através dele ganhar forças para os momentos difíceis.
    A mensagem do filme acaba por ser mais esperançosa do que a de um outro, sobre uma outra avó às voltas com os problemas do neto num cenário de grande dificuldade social e económica - Lola (é filipino).

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  2. só tenho uma palavra para o seu texto: Lindo!

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  3. Quero muito assistir a este filme...só ouvi falarem bem dele. Parece ser mesmo maravilhoso...

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