terça-feira, 29 de março de 2011

No mundo dos livros


Esta é a cidade onde eu queria viver.

Uma cidade só de livros, feita de livros, cercada de livros por todos os cantos e lados.

Nela eu poderia ler continuadamente, incessantemente, deliciosamente.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Para começar bem

O jornalista e escritor, Sérgio Rodrigues, em seu blog Todoprosa ( http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/ ) costuma publicar, de tempos em tempos, uma seção intitulada “Começos inesquecíveis”, na qual destaca os grandes inícios da história a ser contada nos livros. Se o começo for bom, o leitor será fatalmente fisgado para prosseguir na leitura do romance, visando chegar ao seu final.

Manter o leitor lendo, de fato, não é uma tarefa fácil. E vários são os livros que, contando uma excelente história, não conseguem prender o leitor desde o seu início. Para estes, a paciência é a palavra-chave, é preciso tentar, esperar que a trama se desenrole e se revele aos nossos olhos, de forma a se tornar uma leitura prazerosa, à qual se quer voltar sempre para aportar no seu desfecho.

Outros, no entanto, conseguem a façanha, de já na abertura, segurar o leitor em suas páginas. Sérgio Rodrigues, aliás, já destacou, alguns bons começos de livros em seu blog, contando também com a participação de seus seguidores, com sugestões e preferências nesse campo.

Das leituras que fiz, até hoje, para mim, a preferida, a que tem uma bela abertura, que seduz de imediato é Lolita, do escritor russo Vladimir Nabokov que, entre outras artimanhas no romance, criou a palavra ninfeta, para designar a “menina de sensualidade precocemente desenvolvida, e que desperta forte atração sexual”, segundo definição do dicionário.

O livro conta história da paixão de um homem mais velho por uma menina de 12 anos, a Lolita do título. O começo da narrativa, é simplesmente poético, musical, fabuloso:

Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.
Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.

Por outro lado, tenho afeição especial a outra abertura, por remeter à minha adolescência, época em que a li, e que me fez encantar pela linguagem regionalista de José Lins do Rego. Trata-se de Menino de Engenho, que conta a história do menino Carlinhos. Após a morte da mãe, ele vai morar com o avó no Engenho Santa Rosa, no interior paraibano. É um retrato da vida nos engenhos. O livro começa assim:

EU TINHA uns quatro anos no dia em que minha mãe morreu. Dormia no meu quarto, quando pela manhã acordei com um enorme barulho na casa toda. Eram gritos e gente correndo para todos os cantos. O quarto de dormir de meu pai estava cheio de pessoas que eu não conhecia. Corri para lá e vi minha mãe estendida no chão e meu pai caído em cima dela como um louco. A gente toda que estava ali olhava para o quadro como se estivesse a assistir a um espetáculo. Vi então que minha mãe estava toda banhada em sangue, e corri para beijá-la, quando me pegaram pelo braço com força. Chorei, fiz o possível para livrar-me. Mas não me deixaram fazer nada. Um homem que chegou com uns soldados mandou então que todos saíssem, que só podia ficar ali a Polícia e mais ninguém.
Levaram-me para o fundo da casa, onde os comentários sobre o fato eram os mais variados. O criado, pálido, contava que ainda dormia quando ouvira uns tiros no primeiro andar. E, correndo para cima, vira o meu pai ainda com o revólver na mão e a minha mãe ensanguentada. “O doutor matou a Dona Clarisse! Porquê?” Ninguém sabia compreender.

É muito bom quando um livro prende a nossa atenção logo de “cara”, afinal a primeira impressão sempre é a que fica. Mas acho que vale a pena insistir nas outras leituras, mesmo porque grandes aberturas são raras, e o resultado ao final, pode surpreender.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Parceiros de quatro patas

Gosto muito de animais e quase sempre, sem que seja proposital, incluo na minha lista de leituras histórias de animais ou com eles como personagens. Do início do ano até agora, li quatro livros sobre o assunto e já tenho outros tantos para serem lidos ainda este ano. Os dois mais recentes foram De Bagdá com muito amor e Lições de um cão chamado Lava, ambos de autoria de Jay Kopelman, ex- tenente-coronel do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.

Durante a leitura, lembrei-me muito do meu cãozinho Roger, que perdi há um ano, exatamente no mês de março. E, à semelhança do cão Lava, o personagem dos livros que citei, Roger apareceu em casa num momento delicado para minha família e foi importante para “curar” nossas mágoas e feridas.

Tempo atrás eu já tinha tido a oportunidade de escrever uma matéria sobre o papel dos animais para promover uma melhor saúde e qualidade de vida das pessoas. É a chamada Terapia Mediada por Animais e, na época, acompanhei a visita do cão Joe Spencer à ala infantil e psiquiátrica do Hospital São Paulo. O resultado foi surpreendente. Pacientes, acompanhantes, funcionários, visitantes... não havia quem não parasse ao menos para olhar o cão. A maioria, contudo, buscava interagir com ele, o que, sem dúvida, deixava o ambiente hospitalar mais humano.

Dessa “função” terapêutica do animal em hospitais, instituições e mesmo em lares eu já sabia, mas me surpreendi ainda mais quando conheci, em De Bagdá com muito amor, a importância dos bichos, em especial de cães, na guerra, embora o regimento militar não permita que se tenha animal de estimação ou mesmo que os alimente nos acampamentos.

Foi contrariando essa regra, contudo, que Jay Kolpeman, então tenente coronel do grupo de fuzileiros navais, no início da ocupação norte-americana, na cidade de Faluja, Iraque, se defrontou com um filhote de cão, iniciando ali uma amizade que iria enfrentar toda e qualquer dificuldade para continuar compartilhada além da guerra.

Lava, o pequenino cão foi encontrado pelos fuzileiros navais em 2004, em meio a um tiroteio nas ruas de Faluja. Eles o resgataram e o levaram para o acampamento. Ali, Lava fica conhecendo Jay Kopelman que, a princípio, resiste às investidas do cão, mas acaba sendo conquistado. A partir daí, Jay e seu grupo fazem de tudo para esconder Lava e mantê-lo vivo até conseguir levá-lo, com segurança, para os Estados Unidos, para onde o tenente-coronel é mandado de volta alguns meses depois.

Jay conta que a presença de Lava entre o batalhão contribuiu para resguardar a sanidade mental. E também de todos com que ele conviveram em Faluja, como a da repórter Anne, que ficou com o cão por um tempo em Bagdá, enquanto Jay fazia contatos com autoridades e entidades voltadas para animais para transportá-lo aos Estados Unidos.

No fim de semana, Anne me envia outro e-mail.
Ele hoje salvou minha sanidade. Estava cheia de tudo isso aqui e de todo o meu trabalho, mas fui para casa e fiquei brincando com ele.
Imagino que a presença de Lava nas instalações da rádio proporciona a todos os humanos uma fuga temporária da realidade e os leva através de vários pontos de controle até a terra do faz-de-conta, onde os cachorrinhos saltitam em gramados verdes e macios e está um lindo dia na vizinhança.”

O relato de Jay se estende ainda o dia a dia dos soldados, a guerra travada em Bagdá, os ataques dos homens-bomba, as dificuldades em treinar e manter soldados iraquianos, os conflitos armados, as mortes de companheiros, os cães famintos e abandonados pelas ruas da cidade, um cenário devastador.

O final desta história é feliz e aponta para uma outra. Foi então que descobri a continuação da história de Lava, em Lições de vida de um cão chamado Lava, também de autoria de Jay Kopelman. Mas confesso que esperava mais deste livro. A densidade emocional do primeiro, que foi escrito com acoautoria da jornalista Melinda Roth, não se encontra no segundo livro. Neste, o ex-tenente coronel fala de Lava e de sua adaptação ao Estados Unidos, mas concentra-se mais nas suas dificuldades de readaptação à vida com os amigos e familiares depois da guerra. Fala sobre regulamentos e a vida dos fuzileiros navais durante o exercício da profissão e depois de ter enfrentado uma guerra.

O importante, porém, é o que fica: sua relação e seu amor por Lava e o quanto a companhia do cão foi e é fundamental na sua vida.

Esse sentimento eu conheço bem. É muito bom.

Por isso, sempre quando me perguntam se eu não quero outro cão, eu respondo sem pestanejar que sim,que quero, mas é preciso mudar de casa primeiro.

O problema é que ainda não sei quando vou mudar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O meu livro em Fahrenheit 451

Este post faz parte da blogagem coletiva “em Fahrenheit 451 que livro você seria?, promovida pelo site/blog Livros e Afins ( http://livroseafins.com/ ) da qual estou participando.

Para mim é bem fácil responder a essa pergunta, mesmo porque li Fahrenheit 451 recentemente, e o fiz por duas razões:

1. É um livro que queria ler há um bom tempo, portanto, já estava na minha lista.
2. Há pouco tempo respondi essa mesma pergunta para uma coluna do blog da Adriana Ornellas, A menina do fim da rua ( http://a-menina-do-fim-da-rua.blogspot.com/ ).

Fahrenheit 451, de Ray Bradbury apresenta um futuro onde os livros, as opiniões e o pensamento crítico são proibidos. Nesse mundo, os livros são perseguidos pelos bombeiros, cuja função é queimar os que restam. Algumas pessoas tentam sair desse esquema e buscam preservar os livros decorando o seu conteúdo e passando-o adiante. Dessa forma, cada pessoa é identificada pelo título do livro que decorou, sendo conhecida dessa maneira.

Se eu vivesse nesse mundo, no mundo de Fahrenheit 451, eu seria Juca Mulato, o livro-poema de Menotti Del Picchia, que li na minha adolescência e nunca mais esqueci. Até cheguei a decorar um capítulo do poema, recitando-o em frente ao espelho e que lembro até hoje. E esta seria uma forma de não deixar a poesia morrer, porque ela é também necessária para dar mais brilho e significado à existência.

Juca Mulato, considerada como uma das 100 obras essenciais da literatura brasileira, é um poema sertanista, que tem como personagem principal o caboclo Juca Mulato. Ele se enamora da “filha da patroa” por causa de um simples olhar que ela lhe dera e, sentindo o tormento da sua paixão, que não será correspondida, recorre a um curandeiro para curá-lo “do mal que o atordoa”. É um livro curto, mas belo, repleto de lirismo, que utiliza linguagem coloquial nas falas do personagem, mas sem perder as rimas, como nesta passagem:


“...Mas de onde vem o mal que tanto de abateu?

- Ele vem de um olhar que nunca será meu...
Como está para o sol a luz morta da estrela
a luz do próprio sol está para o olhar dela...
Parece o seu fulgor quando o fito direito,
uma faca que alguém enterra no meu peito,
veneno que se bebe em rútilos cristais
e, sabendo que mata, eu quero beber mais...

- Eu já compreendo o mal que teu peito povoa.
Dize Juca Mulato, de quem é esse olhar?

– Da filha da patroa.

- Juca Mulato! Esquece o olhar inatingível!
Não há cura, ai de ti, para o amor impossível.
Arranco a lepra do corpo, estirpo da alma o tédio,
só para o mal de amor nunca encontrei remédio...”


Simplesmente lindo! E este é apenas um trecho.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Das escolhas do livro

O livro, enquanto objeto, pode ser experimentado com todos os sentidos: visão (o ato de enxergá-lo entre tantos títulos), tato (manuseando sua borda, sua capa, suas páginas), olfato (cheirando seu conteúdo), audição (o leve ruído de virar as páginas ou a imaginação com a narração do autor ou ainda com a recomendação de alguém sobre a obra) e paladar (aqui também é preciso usar a imaginação). Assim, com o auxílio de cada um dos órgãos humanos, fazemos a opção por esta ou aquela leitura.

Embora concorde inteiramente com isso, devo admitir que não sou muito visual, na verdade presto mais atenção às letras do que à forma. É claro que uma capa atraente, plasticamente bonita, um formato diferenciado, o desenho nas letras, enfim, todos os recursos visuais disponíveis, são envolventes e contam muito, mas o que mais me atrai num livro é o poder das letras que, juntas, formam uma palavra, que por sua vez junto a outras, constroem uma frase que dá sentido ao todo. Mais do que as cores e formas, eu priorizo os dizeres.

Por isso, costumo dizer que o meu negócio é texto. Afinal, é a história que busco e, se o título me chamar a atenção, vou pegar o livro, vou folheá-lo, vou ler sua contracapa e sua orelha, vou me certificar se é mesmo a história que estou procurando.

Mas há um outro jeito de escolher um livro também. É ouvir falar dele. E esse ouvir pode ser ler, uma reportagem, matéria informativa, indicações de sites e blogs, nas redes sociais. Ou ainda nas referências que o próprio livro dá em relação a outro livro. E ouvir mesmo, nas recomendações dos amigos, de mestres, de bibliotecários e de vendedores nas livrarias e sebos. E não é preciso muito para contar um romance, às vezes, bastam três palavras, como diz Daniel Pennac em um trecho do seu livro Como um romance:

Lembrança de infância e de verão. Hora da sexta. O irmão mais velho deitado de bruços na cama, queixo entre as palmas das mãos, mergulhado num enorme livro de bolso. O pequeno, como quem não quer nada: ‘O que é que você está lendo?’
O GRANDE: As chuvas chegaram.
O PEQUENO: é BOM?
O GRANDE: Demais!
O PEQUENO: O que ele conta?
O GRANDE: É a história de um cara: no começo, ele bebe muito uísque, no fim ele bebe muita água!
Não precisei de grande coisa para passar o fim desse verão molhado até os ossos por
As chuvas chegaram, do senhor Louis Bromfield, furtado a meu mano, que não o terminou nunca.”

A indicação é, certamente, a opção da qual mais utilizo. E daqueles que citei e que fazem parte de um ciclo que alimenta e dissemina o livro, gostaria de ressaltar o vendedor de livros, cujo dia de hoje lhe é dedicado. Mas ao mesmo tempo destaco-o com certo pesar, por lembrar que, recentemente, li uma notícia sobre a dificuldade que duas das maiores livrarias dos Estados Unidos vem enfrentando para sobreviver: a Borders, que decretou concordata, fechou 200 lojas e demitiu um terço dos seus funcionários; e a Barnes&Noble, que ao que tudo indica irá o mesmo caminho.

Esse quadro acontece em razão da internet ser hoje o principal meio de consumo de livros nos Estados Unidos. Não vou negar que também faço minhas compras pela internet, mas não deixo de frequentar livrarias e, comprar, sempre que possível. E aí é que está o problema, comprar sempre que possível, porque o custo de um livro pela internet sai muito mais em conta do que nas livrarias. Infelizmente.

Esta é a realidade em que vivemos. Se até o livro impresso está ameaçado, o que não dizer das livrarias. Espero que haja espaço para todos, porque deixar de frequentar uma livraria é como deixar de se beneficiar de um ato prazeroso e relaxante. Diria até mais, terapêutico. Para quem gosta e aprecia livros, nada como entrar em uma livraria, circular entre as prateleiras, olhar os títulos à amostra, tocar os volumes, folhear as páginas, cheirar o exemplar, ler trechos e decidir por uma compra. Faz bem ao espírito, ativa a mente, relaxa o corpo e te dá prazer, muito prazer. Experimente!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Literatura de mulher

Às vezes pareço meio avoada e custo a perceber as coisas. Talvez possa soar como falta de interesse ou ainda quem sabe ingenuidade, mas o fato é que desde que estou na blogosfera e venho acompanhando blogs literários, um termo sempre me intrigou, se bem que nunca fui muito a fundo para tentar entender. Deixava passar.

No entanto, só agora, com a proximidade do Dia Internacional da Mulher, é que resolvi dar uma pesquisada no termo e descobrir, de vez, o significado de “Chick lit”. É, pode parecer mentira, mas eu não sabia o que isso significava. É vivendo e aprendendo.

"Chick lit” trata-se de um gênero de ficção dentro da ficção feminina, que aborda as questões das mulheres modernas e independentes. São romances leves, divertidos e charmosos, cujo protagonista é sempre uma mulher que está às voltas com a carreira profissional e a vida pessoal, tentando equilibrar-se entre as duas.

Achei divertido esse termo, mas devo confessar que sempre fui muito avessa ao rótulo de “literatura de mulher”. Para dizer a verdade eu nunca fui muito fã desse gênero, nem mesmo de revistas, classificadas como “femininas”, me atraem muito, tipo Claudia, Nova, Máxima. Acho que essas publicações subestimam as mulheres e as rotulam.

Isso não quer dizer que, vez por outra, eu sucumba a elas. Há um lado interessante também, talvez por trazer uma visão mais feminina do mundo moderno. Quanto aos livros do gênero “Chick lit”, reconheço, agora, que também já os li, mesmo sem saber a qual linhagem pertenciam.

Exemplo disso é o best-seller O Diabo Veste Prada, da escritora Lauren Wesberger. Mas admitoo que demorei muito para ler, não sei se a leitura não me prendia ou se foi pura falta de tempo mesmo. Seja como for, passei meses lendo (é, às vezes isso acontece), e como custo a deixar um livro de lado sem lê-lo por inteiro, fui persistente. Ao final, gostei. É uma leitura agradável, leve, sem muito compromisso. Puro entretenimento. Depois assisti ao filme e, com desagrado, percebi coisas diferentes, como sempre acontecem nas adaptações para o cinema.

Outro exemplar do gênero lido recentemente, se bem que não sei se pode ser classificado como “Chick lit”, mas vá lá, foi Cinderela de Saia Justa, da psicóloga Chris Linnares. O livro, na verdade, tem o rótulo de autoajuda, mas consigo ver elementos do “Chick lit” nele.

Cinderela de Saia Justa narra as desventuras de Ana José, uma jornalista descrente, que vê sua vida marcada por grandes frustrações pessoais e profissionais. Quando ela é escalada para fazer uma reportagem investigativa sobre uma “sociedade secreta”, que utiliza ensinamentos baseados em contos de fadas, sua vida sofre um revés e ela parte em busca da sua felicidade.

Esta foi, também, uma leitura agradável e divertida. Mais rápida do que a anterior, mas igualmente sem compromisso maior.

Talvez eu tenha lido mais “Chick lit”, mas lembro apenas destes. E, agora que a questão foi esclarecida na minha mente, fica mais fácil diferenciar – e optar. É mesmo vivendo e aprendendo.

terça-feira, 8 de março de 2011

Mulher de fases

No Dia Internacional da Mulher, um pouco de Cecilia Meireles e as fases da mulher.



LUA ADVERSA

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

sexta-feira, 4 de março de 2011

O livro da sua vida

Qual livro marcou sua vida e por quê?

Esta é a pergunta que o Artefato Cultural (http://www.artefatocultural.com.br/) está fazendo em seu portal a todos os internautas. As respostas, conforme o site, serão transformadas em textos.

O Artefato Cultural surgiu na internet 2004, como um site, no formato de revista, trazendo matérias e textos sobre Arte e Cultura em geral. Os principais destaques são Literatura, Pintura, Escultura, Música, Arquitetura, Teatro e Cinema.

O novo formato (Portal), que se apresenta hoje, entrou no ar em janeiro de 2008, mantendo-se o conteúdo dedicado às sete artes, mas diversificando sua atuação por meio do intercâmbio entre o internauta e a produção cultural da Baixada Santista, sem dúvida, uma das mais importantes na história do País.

Achei o portal bastante interessante e rico em informações culturais. Vale a pena dar uma conferida. E se quiser participar da enquete, basta deixar um comentário falando sobre o livro e o quanto a sua leitura foi importante para você. Acesse a enquete aqui: http://www.artefatocultural.com.br/portal/index.php?secao=news&id_noticia=660&subsecao=68

Quanto a minha resposta, bem, como já comentei no blog, o livro que marcou minha vida foi Fogo Morto, de José Lins do Rego. Porque foi o livro que despertou, de vez, a paixão pela literatura em mim. É um livro que remete à minha adolescência, quando tinha de 14 para 15 anos, época em que passei a me interessar mais pela literatura, impulsionada, sobretudo, por uma professora de Português que tive no final do 1º e começo do 2º grau: Dona Rosemeire. Suas aulas eram magníficas, com leituras, exercícios de criatividade, apresentações de textos. Quando li Fogo Morto fiquei fascinada com a linguagem, aquela história sobre a decadência dos engenhos de cana-de-açúcar e seus personagens fascinantes. Não é à-toa que considero o capital Vitorino Carneiro da Cunha, o meu personagem preferido.

quarta-feira, 2 de março de 2011

"Queimadores de livros"

Imagine um futuro incerto, não muito distante, cujo regime totalitário proíbe e persegue os livros e tudo o que se relacione a leitura. Imagine ainda que para acabar com toda e qualquer obra literária ainda existente, seja necessário acionar os bombeiros que, nesse mundo, têm a função de queimar livros, fazendo um verdadeiro espetáculo a céu aberto. Imagine também que nesse futuro as pessoas são controladas por meio de telões gigantes de televisores instalados nas residências, transmitindo, diariamente e aleatoriamente, programas que não levam a lugar algum. E que esse controle visa suprimir as opiniões próprias e aniquilar o pensamento crítico.

Terrível? Pois é exatamente este o cerne de Fahrenheit 451, o romance de Ray Bradbury, escritor de ascendência sueca e que escreve contos de ficção científica norte-americana. Publicado pela primeira vez em 1953, o romance foi adaptado para o cinema em 1966, sob a direção de François Truffaut.

Li o livro recentemente, numa dessas circunstâncias de leituras tardias, por isso o primeiro pensamento que me veio à cabeça foi “como pude ficar tanto tempo sem ler este livro ou por que não o li antes”. Afinal, já havia visto e escutado várias informações e referências a seu respeito e o tinha na minha lista há um bom tempo, isso sem falar na paixão que tenho por livros que falam de livros. Mas não sei por que adiei, são coisas que a gente não sabe explicar.

Pensando bem, talvez ainda não fosse a hora dessa leitura, pois acredito que sempre há um tempo certo para tudo e, foi assim com esse livro. Seja como for, ler Fahrenheit 451 foi uma dessas experiências que por si só já valem a pena a espera.

O livro, cujo título refere-se à temperatura (em Fahrenheit) a qual o papel ou o livro incendeia, foi escrito por Bradbury na primavera de 1950, numa primeira versão, exibindo o título de The Fire Man. Foi todo escrito em nove dias, na sala de datilografia no porão da biblioteca da Universidade da Califórnia em Los Angeles, provavelmente em uma máquina de escrever Remington, alugada a 10 centavos por meia hora. Era então a metade do romance que mais tarde se apresentaria e que ainda hoje intriga as pessoas.

A escolha do local da escrita não poderia ter sido mais certa. Apaixonado por bibliotecas, Bradbury queria escrever um romance que falasse sobre essa afeição e de como a televisão destrói essa relação. Assim, entre uma página ou outra que escrevia, o autor percorria a biblioteca, entrava pelos corredores, olhava os livros, tirava-os da prateleira, examinava suas páginas.

A história então foi ganhando forma e corpo, transformando-se num romance que discute temas importantes da época (logo após a Segunda Guerra Mundial), como a censura nos anos de 1950, os incêndios de livros na Alemanha de Hitler e o perigo das armas nucleares.

O personagem central da história é Guy Montag, bombeiro que desempenha satisfatoriamente sua função como ”queimador de livros”, até que um dia conhece uma garota, Clarisse McClellan, uma moça sonhadora, de pensamento livre e questionadora, que o faz repensar sobre sua função, o governo e os cidadãos. A partir daí ele resolve mudar sua vida e a sociedade à sua volta, encontrando apoio em um professor de nome Faber.

Achei interessante a escolha dos nomes dos personagens que, segundo o próprio autor, surgiram sem intenção consciente, como relata no final do romance:

“Uma última descoberta. Escrevo todos os meus romances e contos, como vocês já viram, num grande acesso de paixão prazerosa. Só recentemente, revendo o romance, percebi que Montag foi batizado com o nome de uma fábrica de papel. E Faber. Naturalmente, é um fabricante de lápis! Como meu inconsciente foi astuto ao dar esses nomes a eles.
E em não contar isso a mim!”

Só mesmo grandes escritores para contar histórias e dar vida a personagens tão extraordinários e tão próximos ao mundo da literatura.