segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Lembranças de Moacyr Scliar

Em 2010, quando estive na Festa Literária Internacional de Paraty, assisti uma das mesas mais aplaudidas da programação: Promessas de um velho mundo, protagonizada pela iraniana Azar Nafisi, autora de Lendo Lolita em Teerã, e pelo israelense Abraham B. Yehoshua, autor de Fogo Amigo, entre outras obras.

Na mediação, o escritor brasileiro Moacyr Scliar que, com o bom humor que lhe era característico, chegou a sugerir o lançamento da candidatura de Nafisi para a presidência do Irã, depois que ela defendeu a iraniana Sakineh condenada à morte por apedrejamento sob acusação de adultério.

– Não é uma má ideia – respondeu a escritora.

A mesa proporcionou momentos inesquecíveis à Flip, mesclando entusiasmo e indignação. Scliar chegou a brincar com o nome de Azar Nafisi, que de azar não tem nada, e provocou os dois escritores pedindo a eles que falassem sobre o futuro político de seus países e sobre o poder da literatura para transformar as pessoas.

Foram pouco mais de uma hora e meia de bate-papo em que brilharam não só os convidados, mas também o mediador. Ao término, Nafisi e Yehoshua se deslocaram para a mesa dos autógrafos. A eles se juntou Scliar que, com seus mais de 70 livros publicados, entre romances, crônicas, contos, literatura infantil e ensaios, atendeu prontamente a longa fila que já se formava à sua frente.

Domingo à tarde, quando soube da morte de Moacyr Scliar, a lembrança daquela mesa alegre e proveitosa veio com força total à minha mente. Impossível esquecer; difícil é compreender os desígnios da vida. Fica apenas uma certeza: morre o homem, mas suas obras permanecem.

Ilustração: Moacyr Scliar, Azar Nafisi e Abraham B. Yehoshua (desenho de Alexandre Benoit – Blog da Flip).

2 comentários:

  1. Que lindo, Cecília! Mesmo tendo morado alguns anos em Porto Algre, não conheci Scliar pessoalmente. Mas lia periodicamente a coluna que ele mantinha em um jornal diário, na qual falava sobre tudo, incluindo sua vida pessoal. Lembro até hoje da coluna em que ele falou sobre o nascimento do filho Roberto. Estou triste, quase como se fosse da família e não consegui escrever sobre ele... E adorei tua lembrança. Beijão.

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  2. Difícil mesmo compreender os mistérios de vida e morte!!!Mas sendo bem simplista...eu me pergunto:...Tanto político safado, tanta gente mau caráter, tanto ladrão no nosso país...por que tem que morrer justamente aqueles que nos dá orgulho de sermos brasileiros?Mesmo sabendo que não somos imortais, e que um dia vamos virar poeira cósmica....ainda me pergunto isso. Beijão Cecilia e boa semana.

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