sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz 2011



Amigos, um ótimo 2011 para todos nós.

Cortar o tempo

“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para diante vai ser diferente”.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Leituras de 2010/2011

Este foi um ano positivo para minhas leituras. Não tanto na quantidade – neste quesito, ainda estou a dever –, mas sim na qualidade e na disposição. Está certo que derrapei em algumas leituras, demorei, adiei, ainda assim acho que me sai bem e no final me sinto satisfeita. Além de tudo pude expressar – e dividir – muitas das minhas impressões aqui no blog e isso sem dúvida é uma grande vitória.

Tinha planejado ler quase 30 livros este ano. Fiquei nos 22 – há períodos em que li menos, isso acontece. Além disso, muitos daqueles livros que tinha planejado ler, acabei cedendo o lugar para outros que surgiram pelo meu caminho, indicado por amigos, pela crítica, por sugestão de outros livros. Ler é assim, uma leitura vai puxando outra, e mais outra, e ainda outra. E, quando vemos, acabamos saindo daquela rota que tínhamos estabelecido no início. Não importa. O que vale é prosseguir nas leituras. E, depois, acredito no momento certo para ler este ou aquele livro, e se me abstive de alguns daqueles que planejei é porque ainda não era a hora da sua leitura. Outros se fizeram mais urgente para entrar na minha história em 2010.

Se um Viajante numa Noite de Inverno, é um exemplo. Ele não estava na minha lista, afinal já o tinha lido outras duas vezes, mas uma amiga falou dele e tive vontade de lê-lo novamente. As releituras sempre trazem algo novo, como algum detalhe que passou despercebido da primeira vez. Acho que não perdi meu tempo, porque gostei ainda mais do livro.

Outro foi Marcelino Pedregulho, que eu nem conhecia, mas uma amiga tinha ele em mãos e me ofereceu para ler. Era pequeno, com ilustrações e pouco texto, mas com uma mensagem de que dificilmente irei esquecer. Rimbaud, por sua vez, era outro que não constava da minha lista, só que depois que um amigo pediu para falar dele no blog, senti-me na obrigação de ler mais sobre o poeta e, admito, valeu a pena.

Coração de Tinta era um livro que constava da minha lista geral, mas não na de 2010. Ganhei-o no meu aniversário e senti forte atração em lê-lo de imediato. Foi uma das melhores leituras deste ano.

Os demais, tenho certeza, não vou me esquecer tão cedo, afinal, eles me acompanharam por todo o ano e fizeram meu dia a dia melhor. Portanto, vale a pena citá-los, ao lado dos já mencionados. Os 22 lidos são:

1. Nunca Subestime uma Mulherzinha - Fernanda Takai
2. Uma Mente Inquieta - Kay R. Jamison
3. O Vento nos Salgueiros - Kenneth Grahame
4. O Ano do Pensamento Mágico - Joan Didion
5. O Livreiro de Cabul - Asne Seierstad
6. Sobre Alice - Calvin Trilin
7. Emília no País da Gramática - Monteiro Lobato
8. O Lugar Escuro - Heloisa Seixas
9. Coração de Tinta - Cornelia Funke
10. Lolita - Nabokov
11. Lendo Lolita no Teerã - Azar Nafisi
12. O Vampiro de Curitiba - Dalton Trevisan
13. O Poder da Mensagem - Hélio Ribeiro
14. Cinderela de Saia Justa - Chris Linnares
15. Marcelino Pedregulho - Sempé
16. Livros - Ilha Deserta - Vários
17. Blecaute - Marcelo Rubens Paiva
18. A Ilha de Nim - Wendy Orr
19. Se Um Viajante Numa Noite de Inverno (releitura) - Ítalo Calvino
20. Rimbaud - A vida dupla de um rebelde - Edmund White
21. A Mulher que Matou o Peixe - Clarice Lispector
22. Trégua - Mario Benedetti

Para 2011 decidi não fazer lista para ler este ou aquele livro. Claro tenho uma lista dos livros que quero ler e que só faz crescer, mas não quero me determinar a nada. Dentre aqueles que estão lá listados vou pinçando aos poucos, à medida que termino um ou outro livro. Acho que será mais honesto e prazeroso, depois, dou espaço para as novidades e as recomendações que surgirem à minha frente. Este será o meu desafio.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Boas Festas!

"É isto que amo na leitura: uma pequena coisa o interessa num livro, e essa pequena coisa o leva a outro livro, e um pedacinho do que você lê nele o leva a um terceiro. Isso vai em progressão geométrica - sem nenhuma finalidade em vista, e unicamente por prazer".
- A sociedade literária e a torta de casca de batata -
Mary Ann Shaffer, Annie Barrows.

Boas festas amigos, que em 2011 possamos compartilhar muitas leituras juntos. Beijos!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O eterno rebelde

O psicólogo americano Howard Gardner disse certa vez em uma entrevista que “está demonstrado, por meio de extensas pesquisas, que a fase em que a experiência causa mais impacto ao cérebro é até os 20, 25 anos de vida. As pessoas podem até ficar mais sábias depois disso, mas não mais inteligentes.”

Em outra reportagem sobre a precocidade dos gênios, li que “o estudo da explosão precoce da inteligência avançou muito. Hoje se sabe que talentos musicais e matemáticos tendem a desabrochar mais cedo. A habilidade matemática de altíssimo desempenho carrega em si outro mistério. Ela exige do cérebro, além de enorme dose de racionalidade, um poder de processamento bruto que tende a se esgotar com a idade. Por essa razão, todas as grandes descobertas matemáticas foram feitas por gênios antes de eles completarem 30 anos.”

Tomando por base estas informações e guardadas as proporções pode-se entender, por exemplo, porque o poeta francês, Jean Nicolas Arthur Rimbaud, ou simplesmente Rimbaud, até os 20 anos escreveu o que mais tarde seria considerada uma das maiores influências da poesia moderna e se tornado o precursor do surrealismo.

Rimbaud era um menino exemplar, estudioso, amante da leitura e dos livros, até se tornar um rebelde sem causa na adolescência, um libertino por assim dizer, que aos 17 anos começa a viver uma tórrida e tempestuosa relação amorosa com o também poeta Paul Verlaine. E que, no auge da sua criação literária, aos 20 anos, desiste da literatura e se embrenha numa aventura errante pela África traficando armas. Sua morte prematura, aos 37 anos, fez surgir o mito e o reconhecimento pela sua obra literária.

Essa trajetória rápida, intensa e tumultuosa da vida do poeta pode ser vislumbrada no ensaio bibliográfico de Edmund White, Rimbaud: a vida dupla de um rebelde, editado pela Companhia das Letras. O interessante, na obra, foi constatar as idas e vindas de Rimbaud à casa materna, apesar da sua rebeldia e boemia. No final, ele sempre recorria à família, extraindo dali sua força e energia necessárias para as novas empreitadas que seu espírito aventureiro almejava realizar. Além do seu amor pelos livros, mesmo depois de renegar sua veia poética.

“Embora tivesse dado as costas de vez à literatura, Rimbaud permanecia obcecado por livros. Tal como os dois comoventes mas absurdos autodidatas do ‘romance tragicômico’ de Flaubert, Buvard e Pécuchet, Rimbaud queria aprender tudo de cada área de conhecimento prático. Fez vir da França livros sobre metalurgia, hidráulica, funcionamento de barcos a vapor, arquitetura naval, mineralogia, como instalar um depósito de madeira, um guia de bolso sobre carpintaria, alvenaria e assim com diante... Ele, que tinha desejado transformar o mundo por meio da alquimia da linguagem, estava agora reduzido a estudar as verdadeiras técnicas práticas. E, no entanto, o objetivo – saber tudo e controlar tudo – permanecia o mesmo.”

Quanto à sua criação, poemas como “Uma estadia no Inferno” e “Iluminações”, só ganharam o mundo literário graças à intervenção de Verlaine, como relata esta passagem do livro:

“Verlaine, apesar da falta de contato com Rimbaud, permaneceu fiel a seu gênio. Em 1883, publicou três livretos chamados Les poetes maudits sobre Rimbaud, Mallarmé e Tristan Corbière. Todos os três, hoje reconhecidos entre os maiores de seu tempo, eram desconhecidos quando Verlaine decidiu escrever sobre eles. O texto dedicado a Rimbaud era especialmente corajoso, já que deve ter trazido à tona os escândalos do passado: o julgamento, a prisão, suas relações imorais com Rimbaud, o divórcio. Amargurado e furioso com Rimbaud nos anos de 1875 a 1880, Verlaine agora só falava dele com afeto e admiração. No panfleto, Verlaine reproduzia vários poemas de Rimbaud, que muitos do meio literário parisiense estavam lendo pela primeira vez. Ficaram estupefactos. Conforme escreveu Edmond Lepelletier, ninguém tinha lembranças muito favoráveis do garoto que tinham conhecido quinze anos antes. Tudo o que recordavam eram seus modos grosseiros e que se tinha em alta conta: ‘As citações feitas por Verlaine foram como uma revelação’. Sem os esforços de Verlaine, Rimbaud seria apenas uma nota de rodapé na história de um movimento literário esquecido, o Zutismo.”

Da sua obra não li muita coisa, mas o que vi impressiona bastante, como o poema “O barco ébrio”. Mas confesso que tive certa dificuldade na leitura da biografia, dada a complexidade da alma de Rimbaud, seus humores terríveis, sua indisciplina exagerada, seu egocentrismo exacerbado, seu inconformismo predominante. Sua importância para a poesia moderna, no entanto, ultrapassa a falta de empatia com sua pessoa, e ganha cada vez mais adeptos.
Um deles é meu amigo Alexandre, que chamou minha atenção para a poesia de Rimbaud. Ele inclusive, está obcecado pela criação do poeta, tanto que até se inspirou em escrever um pequeno conto poético sobre sua vida, o qual transcrevo abaixo:

Divino Profano

Na companhia errada, envolto a cólera me busco, encontro o profético fluxo que não nega sua apressada cavalgada.
Olho para os lados, me vejo lá dentro. Viajo em pensamentos andarilhos guiado por um brilho; depois me volto escandalizado.
Encaro a realidade, abominável; malhada há tempos.
Como num refluxo, jogo fora todo mal do mundo nas mãos dos deuses utópicos e dos políticos que, cinicamente, já não sabem se mentem ou se consentem.
Por fim, desvendo o oráculo que contradiz a existência; não o revelo a todos, porém afirmo ao sábio estúpido que se não temes o mundo jamais será profundo e seguirá confuso eternamente à marcha dos dementes que caminham imundos como porcos doentes
.

É Rimbaud, há mais de 150 anos de sua morte, inspirando novas gerações. E isso não é pouco.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Numa ilha deserta cercada de livros

Em A Ùltima Tempestade, o diretor Peter Greenaway tranpôs para a tela do cinema a saga de Próspero, duque de Milão exilado em uma ilha distante com sua filha e seus livros, pelo seu próprio irmão, que lhe toma o ducado para aliar-se ao reino de Nápoles. A história é uma adaptação de A Tempestade, peça escrita por William Shakespeare, que fala sobre vingança, amor, conspirações, livros, natureza humana.

Lembrei-me muito desse enredo quando estava lendo Livros – Ilha Deserta, publicação da PubliFolha, na qual sete autores – Bernardo Ajzenberg, Carlos Heitor Cony, Contardo Calligaris, Manuel da Costa Pinto, Maria Rita Kehl, Moacyr Scliar e Nina Horta – enumeram 10 livros que levariam para uma ilha deserta. Há ainda um epílogo, sobre Robinson Crusoé, o maior de todos os náufragos, escrito pelo artista plástico Nuno Ramos.

A lembrança do livro de Shakespeare foi pura intuição, mas não a encontrei em nenhuma lista. O que é interessante notar em Livros – Ilha Deserta é conhecer a escolha de cada autor. Alguns foram guiados pela emoção da infância, outros pela companhia que os livros podem proporcionar – e acalentar – num momento de solidão, e ainda aqueles pautados pelas grandes obras da literatura universal.

Das listas de cada um, gostei particularmente da escritora Maria Rita Kehl, porque ela ter se baseado principalmente na sua infância, época em que a existência das ilhas desertas despertam a imaginação das crianças para aventuras incontáveis, longe dos adultos, com um enorme espaço à disposição. Foi nessa época, também, que ela queria ser o personagem dos seus livros prediletos. Mas aí, uma curiosidade interessante: segundo Maria Rita, os melhores personagens, os que viviam as histórias mais interessantes, as aventuras mais perigosas, eram sempre meninos. Dessa forma, entre os sete e os 13 anos, ela afirma ter sido um menino, como Tarzan, Mowgli, Robin Hood, Pedrinho, Tom Sawyer, Peter Pan, Ivanhoé e por aí vai.

“Quem me salvou para a vida de menina foi Emília, a heroína atrevida e esperta das histórias de Monteiro Lobato. Emília era desnaturada, tinha coração de pano, língua solta e nenhum medo. Dava gosto imaginar que eu era Emília. Mais tarde, quando tentava me conformar com meu destino de mulher, encontrei Helena Morley, a autora adolescente de Minha vida de Menina, e Jô March, a personagem com vocação literária de Little Women.
Se não me foi dado viver a vida fascinante dos meninos, que eu pudesse algum dia virar escritora e inventar outras vidas, outras histórias, outras aventuras que me consolassem da vidinha urbana e comportada destinada a uma reles moça de família de classe média paulistana.”

Maria Rita não poderia ter sido mais feliz nas suas escolhas. Assim, fiz minha listinha também. Foi difícil, porque tive de deixar livros queridos de fora, mas acho que no final consegui fazer uma boa seleção. Procurei me pautar na afeição e na emoção que cada livro deixou em mim, só que nas diferentes fases da minha vida, desde a adolescência até a vida adulta atual. São leituras que me são caras e que tenho certeza me fariam boa companhia numa ilha deserta.

1. Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis
2. Vidas Secas – Graciliano Ramos
3. Fogo Morto – José Lins do Rego
4. Juca Mulato – Menotti Del Picchia
5. O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
6. Cem Anos de Solidão – Gabriel Garcia Marques
7. Palestina – Joe Sacco
8. Os Irmãos Karamazov - Dostoiévski
9. A Revolução dos Bichos – George Orwell
10. Harry Potter e a Ordem da Fênix – J. K. Rowling

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A hora do Recreio

A linha do pensamento é algo extraordinário, inimaginável mesmo. Ela faz a gente dar voltas e mais voltas, tantas que, sem querer, acabamos parando longe, muito longe, bem distante daquela centelha inicial. Esta semana, por exemplo, estava comentando com uma amiga que dificilmente vou dormir depois das 23 horas e, por isso, não costumo assistir televisão até muito tarde, o que às vezes me faz perder alguns programas bons. Depois, pensando nisso, lembrei-me da velha expressão dormir com as galinhas, que significa “deitar-se cedo, logo ao anoitecer, como fazem as galinhas”. Acho que é mais ou menos isso o que faço.

E como um pensamento vai puxando outro, minha cabeça voltou ao tempo e lembrei de uma historinha que era mais ou menos assim:

"Era uma vez uma galinha que tinha três pintinhos, todos muito sapecas. Eles gostavam muito de brincar e de assistir televisão. Um dia, ao anoitecer, a mãe deles os chamou para dormir, mas como estavam assistindo a um programa divertido resolveram ficar mais um pouco acordados. A hora foi passando, mamãe galinha dormiu, mas os pintinhos nem pestanejaram e continuaram com a TV ligada, até que os programas foram ficando cada vez mais tenebrosos. Assustados, os pintinhos correram para se abrigar nas asas da mamãe, mas como ela já estava dormindo, as asas estavam fechadas e eles não puderam se aninhar, ficando ao relento. Somente na manhã seguinte, quando ela acordou, é que os pintinhos conseguiram se acalmar. E desde aquele dia, nunca mais ficaram assistindo TV até tarde."

A historinha, que tem lá seu fundo educativo, foi lida na minha infância na revista Recreio uma das primeiras publicações voltadas para o público infantil. De certa forma ela me marcou, já que até hoje me recordo perfeitamente dela. Na época também gostava de assistir TV até tarde, especialmente filmes de terror, depois ia dormir morrendo de medo. Não é à toa que a historinha tenha mexido comigo.

Mas o fato é que lembrando disso, recordei-me da revista que acompanhou a minha infância. Esperá-la chegar às bancas era uma ansiedade só. Não sei ao certo se a revista era mensal ou semanal, só sei que era superdivertida, alegre, recheada de conteúdo bacana e útil. A cada edição trazia uma novidade legal para ler, escrever, sonhar, pintar, desenhar, recortar, montar, colar (nada dos adesivos de hoje, usávamos cola mesmo). Era bastante instrutiva e repleta de surpresas nas páginas coloridas.

Publicada inicialmente em maio de 1969, pela editora Abril, a revista Recreio circulou ininterruptamente até 1981, tendo lançado grandes autores infanto-juvenis, como Ruth Rocha e Ana Maria Machado, e ilustradores como Renato Canini e Izomar Camargo, entre outros.

O projeto foi retomado em 2000, como um periódico semanal, trazendo ainda unidades de coleções grátis. Pelo que vi, ainda mantém o mesmo padrão de qualidade, com jogos interativos, passatempos, curiosidades, diversão e informação. E o que é mais importante, valorizando e incentivando o processo de aprendizagem infantil.

Recreio. Fez parte da minha infância. Esperio que faça parte da infância de muitas crianças.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mais incentivo à leitura

Li agora pouco, no blog da Lia, http://www.queromoraremumalivraria.blogspot.com/ , uma notícia veiculada pelo site Folha.com sob o título “Brasil fica em 53º lugar em prova internacional que avalia capacidade de leitura”. O comparativo foi feito com 65 países por meio da avaliação de estudantes com 15 anos pelo Pisa – Programa Internacional de Avaliação de Alunos. (Veja matéria aqui

É lamentável, mas está claro, por essa avaliação, que os estudantes brasileiros não vem sendo incentivados à leitura e que há muito que se fazer nesse campo da educação no país. Há que se trabalhar muito mais nesse sentido, incrementar as bibliotecas, capacitar os funcionários, incluir programas de leituras, orientar os pais a estimular os filhos à leitura, e muito mais.

Apesar do quadro sombrio, realizações da iniciativa privada merecem registro e devem servir de exemplo para outras ações semelhantes. É o caso da Fundação Itaú Social que está distribuindo livros infantis para pessoas físicas que se cadastrarem em seu site - http://www.lerfazcrescer.com.br/ - até o final do ano.

A ideia é fazer com que as pessoas leiam – e releiam – os livros para seus filhos, sobrinhos, netos, alunos e depois repassem-os para outras pessoas fazerem o mesmo. As obras fazem parte da Coleção Itaú de Livros Infantis, composta de quatro volumes – O Jogo da Parlenga, Bem-te-vi, Os Três Porquinhos e Lobisomem –, que serão enviados às casas das pessoas, em todo o Brasil, que preencherem o cadastro.

No site você encontra também dicas para promover a Contação de Histórias para crianças, sejam da sua casa, da comunidade, da escola ou de entidades sociais.
Que iniciativas como essa sejam cada vez mais frequentes em nosso país!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Livros que ganhei

A gente dá, a gente recebe.

Minha prima Luci, que mora em Porto Alegre, enviou-me de lá, via correio, um lindo presente: dois livrinhos para me deleitar e devorar. Tarefa que será das mais fáceis – e das mais prazerosas também – visto que a temática das obras tem tudo a ver comigo. Ela acertou em cheio.

Um deles é Jornalismo e Literatura, do escritor Antonio Olinto, publicado pela Já Editores. Trata-se de um ensaio publicado pela primeira vez em 1955, pelo então Ministério da Educação e Cultura, mas que se mantém atual nos dias de hoje, tanto que foi adotado nas escolas de Jornalismo. Fala sobre essa interação do jornalismo com a literatura e todas as suas nuances.

Olinto é um dos mais traduzidos romancistas brasileiros, sua obra abrange poesia, romance, ensaio, crítica literária, análise política, literatura infantil e dicionários. Faleceu há um ano, em setembro de 2009.

O outro livro, Massinha é massa, do economista e cartunista Juarez Freiner Rodrigues, é pura diversão. Por meio de cartoons, Juarez faz um mergulho na alma humana, colocando, em doses rápidas, pensamentos que muitas vezes nos passam despercebidos em virtude da correria do dia a dia. São desenhos e ilustrações simples, mas que conseguem passar toda a carga emocional do autor.

Os livros foram comprados na 56ª Feira do Livro de Porto Alegre, que aconteceu de 29 de outubro a 15 de novembro último. Fiquei morrendo de vontade de participar, mas por causa do trabalho não tinha como ir, então minha prima resolveu dar um jeito de me passar um pouco o clima da festa, enviando não só os livrinhos, mas também o programa oficial, com todas as informações, folhetos e marcador de página. Um verdadeiro tesouro. Lindo, não?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Clique para livros

Comprar pela internet é tão fácil. Basta acessar um site de vendas, escolher o produto, preencher um cadastro e com um simples clique comprar, optando por uma forma de pagamento. Aí dificilmente tem volta e, no mais, é só relaxar e esperar receber o objeto do desejo no endereço de entrega. Fácil, prático, rápido, cômodo. E assim vou comprando, principalmente livros. Só neste mês foram dez exemplares (curioso é que o ano passado, neste mesmo dia, fiz um post falando dos livros que comprei. Na época foram seis). É acho que extrapolei minha cota – e meu saldo bancário também. Mas nem todos foram para mim, alguns comprei para presentear, já que novembro é um mês de muitos aniversários na família e entre os amigos.

Os primeiros foram para mim mesma – Frankenstein e Asilo Arkham, ambos quadrinhos. Pois é, vira e mexe eu acabo comprando gibis, não tem jeito. O primeiro faz parte da Coleção HQ Clássicos, da Editora Larousse, que não me saía da cabeça desde que vi na Bienal do Livro deste ano. Além de retratar fielmente a obra de Mary Shelley, o livro apresenta a história em torno da história, ou seja, as circunstâncias e o contexto em que a autora escreveu Frankenstein.

O segundo quadrinho é uma graphic novel desenhada por Dave MacKean e com roteiro de Grant Morrison. Na trama, os internos do Asilo Arkham, entre eles Coringa e demais inimigos do Batman, tomam conta do asilo e exigem a presença do homem morcego, que será torturado física e psicologicamente pelos vilões. Batman é então mostrado em seus pontos mais fracos. Em paralelo é contada a história do fundador do asilo, Dr. Amadeus Arkham, que atormentado pela loucura da mãe dedica-se à psiquiatria, mas vê-se louco após o assassinato da esposa e da filha.

Depois comprei, para presentear a filha de uma amiga, O Livro de Nina para Guardar Pequenas Coisas, do artista plástico Keith Haring e editado lindamente pela Cosac Naif. Trata-se de um livro infantil, personalizado, feito pelo artista para dar a Nina, filha do pintor italiano Francesco Clemente, em seu aniversário de sete anos. Na obra pode-se desenhar, pintar, colar adesivos, colocar folhas, fotos, enfim tudo aquilo que traz lembranças de momentos bons e inesquecíveis a uma criança.

Do mesmo autor, comprei ainda Ah, se a gente não precisasse mais dormir!, que traz comentários de crianças de diversas idades sobre as obras do artista. Organizadas em temas – símbolos, histórias, emoções, trabalho em grupo, imaginação e diversão –, as obras são apresentadas e acrescidas pelos comentários. Este livro resolvi dá-lo a amiga Gil, que aniversariou em novembro, por ela gostar muito de literatura infantil e arte.

Para minha irmã, que também aniversariou em novembro, dei, como já comentado neste blog, Viva Pagu Fotobiografia de Patrícia Galvão, obra que retraça a trajetória de Patrícia Galvão a partir de material iconográfico e documentos. O livro foi editado pela Imprensa Oficial.

Novembro é ainda o mês de aniversário da minha sobrinha e, para ela, dei o livro escrito pelo seu humorista preferido e que também faz às vezes de repórter: Danilo Gentili e seu Como se tornar o pior aluno da escola, editado pela Panda Books. Não sei muito o que dizer deste livro, porque mal o folheei – não sou lá muito fã dele –, mas pelas resenhas que vi na internet o exemplar oferece “23 lições para que o leitor se transforme em um baderneiro de mão-cheia”. Ricamente ilustrado, o livro traz capítulos ensinando “a colar nas provas, chegar atrasado, criar uma doença convincente, colocar apelidos nos colegas, brigar, jogar a culpa no outro, espalhar fofoca e até a não ler livros”. Enfim, nada mais típico de Danilo Gentili.

Como não sou de ferro, comprei mais livros para mim. Entre eles, uma edição de bolso chamada Contos de Fadas – de Perrault, Grimm, Andersen e outros, com apresentação de Ana Maria Machado, da editora Zahar. Acho que dispensa comentários. O outro foi O Futuro do Livro, obra que traz 60 visões (entre elas de Ziraldo, José Mindlin, Muniz Sodré, Milton Hatoum) opiniões, divagações, comentários sobre o tema. Uma joia rara, da Ipsis Gráfica e Editora.

E, por fim, como não poderia deixar de ser, já que neste mês estreou a primeira parte do sétimo e último livro sobre Harry Potter, comprei duas obras sobre o bruxinho mais famoso da literatura: Almanaque de Harry Potter e outros Bruxos e Harry Potter e a Magia do Cinema. O primeiro livro, de autoria de Ana Paula Corradini e Fábio Sgroi, fala tudo sobre o mundo mágico criado por J. K. Rowling, desde personagens e criaturas, passando por Hogwarts até curiosidades sobre bruxos famosos da TV e do cinema e um super quiz com perguntas-teste sobre a saga potteriana.

Harry Potter e a Magia do Cinema, lançado recentemente pela Panini, trata dos filmes da série e foi escrito e diagramado em colaboração com o elenco e a equipe de produção.

Ainda bem que o mês acabou, mas em compensação um outro começou e com ele mais expectativas pela frente, com as festas de final de ano. Será que vou conseguir me conter daqui para frente? Sei lá, só se me tirarem o computador da vista e das mãos, senão vou continuar navegando – e comprando . É simples, rápido e muito barato.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Uma coleção encantada

Algumas pessoas, como eu, podem até torcer o nariz para o livro digital, mas a verdade é que, pouco a pouco a tecnologia vem conquistando mais adeptos. Isso não quer dizer que o livro impresso possa acabar, isso não! Acredito que as duas versões possam conviver pacificamente, lado a lado, uma completando a outra naquilo que lhe falta.

O fato é que hoje recebi um e-mail bem instigante – e atraente –, cujo subject convidava a imaginar um livro que tivesse trailer, como de cinema. Reunindo assim duas das minhas maiores paixões – cinema e literatura – não era de se estranhar que meu interesse tivesse sido despertado. Apressei-me a ler e soube de um projeto bacana que se chama Biblioteca Callis de Livros Encantados‏, da Editora Callis.

A coleção, que tem data marcada para estrear – 7 de dezembro –, compõe-se de 40 títulos infantis de autores brasileiros, que foram totalmente reformulados, para adaptarem-se ao perfil digital. As histórias são narradas e acompanhadas de uma trilha sonora criada pelo músico e compositor Kalau, que ajuda a dar movimento às páginas animadas, conforme informa o release da Callis.

A Biblioteca foi idealizada para ser usada por escolas, mediante pagamento de uma assinatura. Dessa forma, ela não será comercializada por livrarias, tendo seu uso restrito em salas de aula, já que cada título virá acompanhado de um plano de atividades para ser seguido pelo professor. Para adquirir a coleção, a escola deverá ter, basicamente, um computador com acesso à internet .

A ideia da Callis é levar os livros para regiões mais distantes do país, como o interior da Paraíba e, até mesmo para escolas brasileiras no Japão.

A coleção de Livros Encantados será lançada no seminário “Letramento Digital na Escola 3.0”, que a editora está organizando em parceria com o Instituto Canal do Livro. Na oportunidade serão realizadas três palestras: “As tendências do uso da tecnologia educacional via web”; “Os professores e o desafio da leitura; o que fazer para que nossos alunos leiam mais e melhor”; e “Letramento digital na sala de aula: um mundo a explorar”. Mais informações acesse
http://www.callis.com.br/portal/noticia.asp?ArtigoID=310

Digital ou impresso, o que importa mesmo é que iniciativas dessa natureza se intensifiquem sempre mais, promovendo e incentivando cada vez mais a leitura, ampliando o seu alcance e formando ainda mais leitores.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pagu, sempre Pagu

Minha irmã é uma pessoa difícil de presentear. Ela tem um gosto bastante peculiar e apurado, por isso, mesmo tomando todos os cuidados e presenteando-a com algo que queira, ainda assim corre-se o risco de errar. Livros, então, nem se fala. Para quem não gosta de ler, é impensável dar-lhe um exemplar de uma obra, seja ficcional ou não. Mas, então, porque é que eu insisto nessa armadilha? Quem sabe se pela insistência ela não acaba gostando, afinal “água mole em pedra dura tanto bate até fura”, já dizia o velho ditado.

Se fosse me pautar pelos últimos livros que lhe dei, e ela “tentou” ler, certamente desistiria. No final do passado arrisquei-me com Comer, Rezar e Amar, de Elizabeth Gilbert, que minha irmã demonstrou interesse em adquirir. Foi um alívio para mim quando ela se prontificou a ler, mas acredito que não tenha passado das 30 páginas iniciais. Desistiu no início do caminho. Por fim, recentemente assistiu ao filme baseado no livro, que tem Julia Roberts no papel principal, e não fez mais menção em continuar.

Outra desventura foi com Moça com Brinco de Pérola, de Tracy Chevalier, que narra uma possível história do famoso quadro do pintor holandês Johannes Vermeer, em que reproduz uma moça de turbante e brinco de pérola. Também por este minha irmã demonstrou interesse e até chegou a ler bem mais da metade do livro, mas acabou também deixando a leitura de lado, e isso já há um bom tempo.

Depois dessas e de outras tentativas, eu não deveria mesmo insistir, mas outra vez cai na tentação e, por ocasião do aniversário dela, na semana passada, dei-lhe o livro Viva Pagu – Fotobiografia de Patrícia Galvão, de Lúcia Maria Teixeira Furlani e Geraldo Galvão Ferraz. O livro retraça a rica trajetória da musa dos modernistas a partir de amplo material iconográfico e muitos documentos inéditos. Uma verdadeira joia.

Foi um investida arriscada, já que o livro tem 348 páginas e formato 26 x 29,5, nada prático para se carregar e manusear. Mas é uma obra que ela sempre estava comentando, desde o lançamento, em maio deste ano, e, depois, minha irmã tem uma predileção por histórias da vida real, em especial por Pagu e, acreditem, já leu um livro sobre ela (Pagu, da escritora Lia Zatz, lançado pela Coleção A Luta de Cada Um). Está certo que é um livro pequeno, fino, com letras fora do padrão, cheio de cores e diagramação diferenciada, mas pelo menos terminou. Levando tudo isso em consideração decidi a dar-lhe o livro. E acho que não me enganei.

Ontem a vi folheando o exemplar em casa, aliás, ela está de férias, então é uma ocasião perfeita para degustar um livro um tanto complicado de se carregar por aí, pelas ruas da cidade. E, depois, é uma obra para ser vista com calma, página por página, sentada confortavelmente no sofá de casa, sem falar no efeito estético que um livro dessa natureza comporta. E, convenhamos, pressa, pelo menos, é uma coisa que minha irmã não tem.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O bruxinho na telona

Mal cheguei ao trabalho hoje de manhã e já fui abordada por um colega que me disse:
– Meu filho chegou às 3 da manhã em casa.
Fiquei na expectativa só pensando no que eu tinha a ver com isso.
– Ele saiu de um carro que estava atulhado de gente, nem sei como todo mundo entrou ali dentro.
Continuei sem entender nada. Foi aí que ele falou:
– Ele foi assistir a pré-estreia de Harry Potter e as Relíquias da Morte e eu o esperei para saber do filme.
Pronto. Ouvir aquelas palavras foram como mágica para mim e apressei-me em saber:
– Verdade? E aí, o que ele achou?
– Nossa! Disse que é bem idêntico ao livro. Ele adorou!

Meu Deus, quase pirei. Se já tinha vontade de assistir ao filme, depois do que ele me contou fiquei mais ansiosa ainda. Quanto esperei por isso, contei os dias até, só falava no filme nestes últimos meses. Disse a mim mesma que iria assistir assim que estreasse e depois veria novamente, para prestar mais atenção aos detalhes que por ventura deixasse escapar da primeira vez.

Mas pensei melhor e achei por bem esperar mais uma semana. Um pouco por causa do alvoroço e das filas enormes, depois porque assim prolongo a expectativa e alimento o meu desejo. É mais ou menos como naquele conto de Clarice Lispector, Felicidade Clandestina, em que uma menina queria muito ler um livro, mas não conseguia emprestá-lo, até que quando o teve em mãos, fazia de conta que não o tinha, escondia-o em algum lugar e se espantava ao encontrá-lo novamente para, de alguma forma, prolongar o êxtase pela conquista e o prazer daquela futura leitura.

E mesmo conhecendo a história, pois já li As Relíquias da Morte quando o livro chegou ao Brasil (até comprei em pré-venda) em 2007, a expectativa pelo filme não diminuiu, ao contrário, só cresceu, porque assim poderei visualizar todo o universo potteriano na tela do cinema e unificá-lo com o meu, concebido durante a leitura.

Este livro é o sétimo e último da saga e, transposto para o cinema, foi dividido em duas partes. A primeira estreia agora. A outra só chega em julho de 2011. Esta última aventura é muito engenhosa, muito boa, repleta de detalhes. Harry Potter amadureceu e com eles seus milhares de fãs. Da história infantil e engraçada do primeiro livro (A Pedra Filosofal), que introduziu toda a história do pequeno bruxo, o último carrega um tom mais sombrio e sóbrio, já iniciado com o quarto livro da série, O Cálice de Fogo.

Muitos personagens povoam as páginas de As Relíquias da Morte e grandes surpresas estão reservadas para Harry e sua turminha. Juntos, eles buscam – para destruir – as horcruxes com que Voldemort dividiu sua alma. Uma empreitada dura, repleta de percalços e reviravoltas, mas também uma jornada de persistência, coragem e amizade.

Mas, enquanto não me aventuro pelas salas de cinema, vou me divertindo com as brincadeiras baseadas na série, como este teste –http://testeparavoce.br.msn.com/entretenimento/harrypotter/Start.aspx – que vi no MSN para saber que “personagem você é no mundo potteriano”. O meu resultado? Harry Potter.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Leitor e o leitor

Vez por outra eu retomo antigas leituras, seja porque alguma coisa na rotina me remete a elas, seja porque elas ainda estão muito vivas na minha mente. E essa retomada é sempre prazerosa, pois a releitura traz novas perspectivas e visões da leitura inicial que, na pressa, pode ter deixado escapar detalhes de grande importância para o desfecho do livro.

Mas não foram estes os motivos que me levaram a reler, pela segunda vez – ao menos boa parte –, Se um Viajante Numa Noite de Inverno, do escritor italiano Ítalo Calvino. É que a blogueira Érika, do Narrativas e Divagações, queria saber a minhas impressões sobre este livro, que ela deseja ler, mas talvez por não ser ainda o momento certo, vem adiando indefinidamente.

Pra falar a verdade, eu planejava falar sobre este livro em um post que trataria de livros sobre livros, ou seja, livros que falam de livros, uma das leituras de que mais gosto, mas claro, abordaria aqueles que li, como Se um viajante. Sim, este mesmo, porque ele também trata do livro no livro, ou melhor, do ser Leitor, e de todas as implicações que esse papel traz em seu interior, não deixando de lado também a figura do escritor.

O Leitor, contudo, ocupa a cena principal, ele é o protagonista da história e você, como leitor, irá acompanhar a odisseia desse Leitor no papel , muitas vezes se confundindo com ele, já que por não ter nome, pode muito bem ser você. E o que quer esse Leitor, assim como você, é tão somente terminar a leitura do livro que começou, uma aventura que se principia no próprio ato de ler, assim:

“Você vai começar o novo romance de Ítalo Calvino, Se um viajante numa noite de inverno. Pare. Concentre-se. Afaste qualquer outro pensamento...”

Calvino detalha a seguir a melhor maneira e o lugar que o Leitor escolhe para ler, como chegou até o livro, o porquê e como o elegeu, onde e como o encontrou, quais foram os obstáculos enfrentados nessa busca, enfim, cada passo do processo que termina quando o Leitor está confortavelmente instalado lendo o livro.

Aí começa a história em si, ou melhor, a história que está nesse livro que o Leitor está lendo. Da leitura vacilante a princípio, o enredo vai ganhando corpo até prender a atenção do Leitor e, justamente quando esse interesse começa a crescer, a leitura é interrompida por um defeito no livro, que repete, nas páginas seguintes o mesmo início. Frustração e desespero se apoderam do Leitor.

A partir daí o Leitor empreende uma caçada sem fim para recuperar o livro que começou com sua história completa, sem interrupções. E, cada vez que se depara com um novo exemplar que lhe chega às mãos, outra história se desenha a sua frente, que nada tem a ver com aquela que ele começou, mas que o apaixona da mesma forma e o faz querer continuar esse novo enredo. Ao final serão dez romances que o Leitor – e você – começam e, por razões diversas, não conseguem terminar

No meio de tudo isso o Leitor encontra uma Leitora, Ludmilla, apaixonada por livros e para quem a leitura é algo sagrado, tanto que ela se recusa a ter contato com autores e até mesmo com editoras, para não correr o risco de transpor a “linha divisória” que separa um personagem do outro e ter sua condição de leitora perdida:

“– Há uma linha que separa, de um lado, os que fazem livros, de outro, os que leem. Quero continuar a fazer parte daqueles que leem, e por isso presto muita atenção para me manter sempre deste lado da linha, Senão, o prazer desinteressado de ler já não existe, ou se transforma em outra coisa, que não é o que quero. É uma fronteira imprecisa, que tende a desaparecer: o mundo daqueles que têm relação profissionais com os livros está cada vez mais povoado, e tende a se identificar com o mundo dos leitores. Evidentemente, os leitores também são cada vez mais numerosos, mas pode-se dizer que o número daqueles que utilizam os livros para produzir outros livros cresce definitivamente mais depressa que o número daqueles que gostam dos livros para ler. Sei que se eu transpuser o limite, mesmo acidentalmente, corro o risco de perder-me nessa maré que sobe; conclusão: recuso-me a pôr, mesmo por alguns minutos, os pés numa editora.”

Se um Viajante Numa Noite de Inverno, o livro de Ítalo Calvino, com seus vários livros dentro desse livro e a interminável saga do Leitor em busca da continuação das suas leituras é uma grande viagem, uma viagem que quanto mais você se envereda por ela, mais fundo você quer chegar. Se ela vai desembocar em algum lugar, só o transpor da última página dirá. Mas asseguro que é uma aventura pela qual vale a pena tentar.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Na banca de jornal

Eu ando um tanto nostálgica ultimamente. E, até, já comentei aqui da saudade que sinto de ouvir notícias, na frequência AM, do radinho de pilha. Mas outro dia, outra recordação me bateu forte, fazendo lembrar de um antigo hábito que há muito deixei de realizar: ler as manchetes jornalísticas na banca de jornal.

Parece uma coisa tola, sem sentido num mundo em que a internet é a bola da vez. Sim, posso fazer isso acessando os sites dos jornais no computador ou ainda ligando a TV para assistir ao noticiário matinal, mas confesso que não é a mesma coisa. Falta, por exemplo, o calor humano nesses veículos midiáticos. O mesmo calor que você sente quando está olhando uma publicação em uma banca e percebe uma pessoa ao lado fazendo a mesma coisa. Em dado momento é possível até notar suas expressões frente a uma notícia, quando muito sua opinião sobre o assunto em destaque.

Gosto de circular por bancas de jornal desde criança, época em que meu pai levava minha irmã e eu, sempre aos domingos, para comprar revistas, jornais, pequenos livros, gibis nesses pontos de venda. Era uma grande festa, coroada com a leitura prazerosa ao retornar para casa.

Cresci, os interesses foram se diversificando, mas a rotina das bancas de jornais continuou, ampliando-se quase que diariamente, mas dessa vez mais centrada nas manchetes de jornais e nas revistas de informação. No caminho para o trabalho, por exemplo, cada banca encontrada era um novo motivo para eu parar e olhar as publicações, com atenção e interesse redobrados.

Mas o tempo foi passando e percebi, ultimamente, que esse hábito diminuiu, não sei ao certo o porquê, talvez seja a tal da internet, que te oferece um leque grande de possibilidades, com um sem número de atrativos, rápido e eficaz, mas que ao mesmo tempo restringe, limita e tira todo aquele prazer do convívio com outras pessoas, ainda que anônimas e desconhecidas. Esse mundo dinâmico, mediado por aparatos virtuais, acaba por trazer uma visão “borrada” da realidade, porque não testemunhada, porque não compartilhada.

Por tudo isso, acho que estou precisando mesmo retomar velhos hábitos, voltar meus olhos para as bancas de jornal, fazer minhas paradas matinais por esses espaços, explorar as publicações existentes, antigas e novas, prestar mais atenção ao mundo à minha volta. Ah, e também ouvir mais AM no rádio. Porque a informação só é completa quando dividida e, de certa forma, vivenciada.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O meu apocalipse

A aula de Português estava animada e produtiva, como acontecia todas as vezes que a disciplina era ensinada, com os alunos fazendo várias intervenções e brincadeiras. A professora, no entanto, mantinha o controle da sala e conseguia monopolizar a atenção de todo mundo. Esta era uma das aulas de que mais gostava, só que não me lembro bem o ano, só sei que estava no 1º grau – hoje equivalente ao Ensino Fundamental – época em que as ideias fervilhavam na minha cabeça.

Ainda com aquela ideia de ser escritora, mas quase mudando para o jornalismo, tive um rápido insight e acabei levando a minha imaginação a criar uma história, ou melhor, a começar uma história, um pequeno conto em que da animada aula, viveríamos um pesadelo imenso ao sair da sala.

Era mais ou menos assim: a aula acontecia naturalmente, com a matéria sendo explicada e a turma recebendo as lições com interesse, haveria espaço para questionamentos e até brincadeiras. Lá fora caía uma tempestade forte, recheada de trovões e relâmpagos, que duraria até o término das aulas. Dado o sinal, todos se apressam em ir embora, mas ao transpor o portão do colégio a turma sente alguma mudança no ar e percebe, aos poucos, que o mundo ao redor já não é o mesmo e que o tempo dera um salto enorme, de forma que toda aquela vida que conhecíamos havia ficado para trás, perdida num passado longínquo. Apenas “nós” ainda éramos os mesmos.

Bom essa era a trama central, mas não cheguei a desenvolver a continuação. Não consegui pensar em mais nada e ir em frente com o texto. Acabava assim a trajetória da “aspirante” a escritora de ficção para dar lugar a jornalista da vida real.

A ideia do meu conto, eu sei, não é tão original assim. Mas qual não foi minha surpresa quando li Blecaute, de Marcelo Rubens Paiva, que lembrava a minha história, mas claro, muito melhor, com mais ação e uma continuação digna de nota. A narrativa é despojada, instigante, imaginativa. É uma leitura de um fôlego só, que não se consegue largar até chegar ao fim.

O enredo se passa em São Paulo, onde dois rapazes e uma garota, de volta de uma expedição que fizeram a uma caverna do Vale do Ribeira, percebem a cidade deserta, ou melhor, com pessoas, mas estas se encontram duras, como que cobertas por uma capa plástica. Cada uma parada conforme a atividade que estivesse executando no momento em que aconteceu essa espécie de “blecaute”, paralisando tudo, para sempre.

Sozinhos em meio a uma São Paulo caótica, os três personagens – Rindu (narrador), Martina e Mário – tentam sobreviver, buscando entender o que aconteceu à cidade e descobrindo que a situação se estendia ainda a outras regiões do estado, do país, do mundo.

A ideia recorrente de apocalipse sempre acompanhou a humanidade, talvez por isso as catástrofes populacionais na ficção não sejam uma novidade. Mas a maneira de contar sim.

No início do livro, Marcelo Rubens Paiva lembra que para escrever Blecaute se inspirou nos episódios da série Além da Imaginação, telessérie americana, que apresentava histórias de ficção científica e terror, em diversas temporadas, nos anos de 1959, 1985 e 2002.

No livro, a personagem Martina, tentando entender a nova realidade, recorda do filme A última esperança da terra, com Charlton Heston no papel principal, cuja história gira em torno de um cientista que, após a devastação da Terra por uma poderosa peste, se dá conta de ser o único sobrevivente vivo.

O filme, por sua vez, foi baseado no romance de ficção científica Eu sou a Lenda, do escritor americano Richard Burton Matheson, que teve ainda outras duas adaptações cinematográficas: O último homem da terra, com Vicent Price, e Eu sou a lenda, com Will Smith.

Blecaute é, sem dúvida, inspirado nessas histórias para lá da imaginação. Entretanto, para escrever o livro, Rubens Paiva teve também outros estímulos, como as músicas de Tom Waits, King Crimson e Duke Ellington. Confessa ter estado ”deprimido por descobrir o tédio e a solidão, apesar dos apelos, o vício acima de tudo, apesar do universo em expansão (ideia recorrente na obra), sentindo amor pela juventude e ódio pela verdade”.

Todos esses sentimentos estão expressos, de uma forma ou de outra, no livro, como na passagem, no início da história:

No princípio, o Céu e a Terra eram fenômenos divinos; e só. Em seguida, a Razão, a Ciência encontrou teorias que os definissem. A luta da humanidade era explicar o inexplicável. Hoje... meu corpo se curvou para a frente, cansado, desiludido. Dane-se! Me lembro de uma música que falava “Tudo, tudo, tudo vai dar certo...” e acho engraçado. Nada deu certo. Já me falaram de uma nova Era. Já me falaram do universo em expansão. Mas nada deu certo. Nada.
Começou há muito tempo. Sei lá, há uma porrada de tempo.

Depois da leitura de Blecaute entendo o porquê de não ter dado prosseguimento à minha história. Acho que tudo o que pudesse imaginar não ficaria tão bom assim. Adoro ficção, mas definitivamente sou uma escritora da vida real.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os livros mais vendidos

Eu adoro listas, especialmente se estas forem de livros. Pois é, hoje, quando se comemora o Dia Nacional do Livro, data esta instituída por ter sido no dia 29 de outubro de 1810 que a Real Biblioteca Portuguesa foi transferida para o Rio de Janeiro, originando assim a Biblioteca Nacional, vi um artigo interessante no site do UOL sobre os 21 livros mais vendidos de todos os tempos.

Estes livros bateram a marca das 50 milhões de cópias vendidas, um número bastante considerável, o que não significa, necessariamente, que são os mais lidos. Mas, o que mais gostei é que da lista de 21 livros, eu li – e li mesmo – pelo menos 12 (graças a Harry Potter), ou seja, mais da metade. Destes, dois estão na minha lista de preferidos: Harry Potter e a Ordem da Fênix e O Pequeno Príncipe.

Da lista dos 21, ainda, três eu não li, mas assisti ao filme: O Senhor dos Anéis, Ben Hur e A Marca do Zorro. Não é a mesma coisa, eu sei, mas conheço a história.

Para não fazer mais mistério sobre os livros, listo abaixo os 21 mais vendidos de todos os tempos – e o quanto venderam –, destacando em verde aqueles que já li.

1. A Bíblia – 6 bilhões (este pelo menos uma parte)
2. O Livro Vermelho, Mao Zedong – 900 milhões
3. O Alcorão – 800 milhões
4. Xinhua Zidian (dicionário chinês) – 400 milhões
5. O Livro de Mórmon, Joseph Smith Jr. – 120 milhões
6. Harry Potter e a Pedra Filosofal, J. K. Rowling – 107 milhões
7. E Não Sobrou Nenhum (O Caso dos Dez Negrinhos), Agatha Christie – 100 milhões
8. O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien – 100 milhões
9. Harry Potter e o Enigma do Príncipe, J. K. Rowling – 65 milhões
10. O Código da Vinci, Dan Brown – 65 milhões
11. Harry Potter e a Câmara Secreta, J. K. Rowling – 60 milhões
12. O Apanhador no Campo de Centeio, J.D. Salinger – 60 milhões
13. Harry Potter e o Cálice de Fogo, J. K. Rowling – 55 milhões
14. Harry Potter e a Ordem da Fênix, J. K. Rowling – 55 milhões
15. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, J. K. Rowling – 55 milhões
16. Ben Hur: Uma Narrativa de Cristo, Lew Wallace – 50 milhões
17. Heidi´s Years of Wandering and Learning, Johanna Spyri – 50 milhões
18. O Alquimista, Paulo Coelho – 50 milhões
19. Meu Filho, Meu Tesouro, Dr. Benjamin Spock – 50 milhões
20. O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry – 50 milhões
21. A Marca do Zorro, de Johnston McCulley – 50 milhões

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Reportagem em quadrinhos

Se me perguntassem, hoje, “onde eu gostaria de estar?”, a minha resposta seria rápida e direta: em Porto Alegre, e isso por uma simples razão: a capital gaúcha abrigará, de 29 de outubro a 15 novembro, a sua 56ª Festa do Livro (http://www.feiradolivro-poa.com.br/), considerada a maior a céu aberto das Américas. E o que é melhor, totalmente gratuita, democrática, plural.

Mas se a feira começa na sexta e segue por mais duas semanas, por que então eu gostaria de estar lá antes? E a minha resposta não poderia ser mais natural do que a outra: para participar do I Encontro Internacional de Jornalismo em Quadrinhos, que começa amanhã e vai até o dia 30 de outubro, como um evento paralelo à Feira do Livro de Porto Alegre, mas que infelizmente não poderei presenciar.

A programação é de primeira (http://www.goethe.de/ins/br/poa/ver/pt6596308v.htm) e terá, entre os convidados, os quadrinistas alemães Atak e Jens Harder. Dos nacionais estarão presentes Aristides Dutra, mestre em Jornalismo em Quadrinhos; Felipe Muanis, jornalista, ilustrador e professor; Gilmar Rodrigues, jornalista; e Spacca, desenhista e escritor de quadrinhos históricos, entre outros.

Já comentei várias vezes aqui minha paixão por quadrinhos, especialmente pelo Jornalismo em Quadrinhos, gênero que tem se destacado nos últimos anos, cujo grande expoente, pelo menos para mim, é o cartunista e jornalista Joe Sacco.

Até conhecer seus trabalhos, em 2001, especialmente Palestina – Uma nação ocupada, e que me inspirou a fazer uma monografia para a pós em Jornalismo Internacional, eu nunca tinha ouvido falar em Jornalismo em Quadrinhos. A descoberta da graphic novel foi uma surpresa bastante agradável e se tornaria um ícone no gênero para mim.

A reportagem em quadrinhos de Sacco foi lançada no Brasil em 2000, com 144 páginas. Sabe-se que durante muito tempo, a abordagem da questão palestina apresentada pelas mídias tradicionais – jornais, revistas, televisão – mostrava apenas um lado do conflito – israelense – em detrimento do outro – palestino. De uma maneira criativa e original, Joe Sacco decidiu, entre 1991-1992, verificar “in loco” a situação e retratar em quadrinhos o dia a dia dos palestinos, mostrando quem são, o que pensam, o que sentem, como vivem. O resultado foi uma excelente reportagem em quadrinhos, primeiramente publicada em uma série de nove revistas e, posteriormente, editada como livro, em dois volumes – o segundo é Palestina – Na faixa de Gaza.

O primeiro volume destaca, entre outros aspectos, o campo de refugiados de Balata, na Cisjordânia, a detenção, o aprisionamento e o interrogatório de palestinos, feitos por autoridades israelenses, e a questão das mulheres palestinas. O conflito não só é explicado historicamente, como traz os fatos no seu cotidiano, com depoimentos e representações do que aconteceu naquela região. O próprio autor se insere no enredo, se retratando como um personagem, ele próprio, um repórter em busca de uma boa reportagem, que vive no meio do povo, ouvindo suas histórias e dando forma estética a elas.

Sacco é da escola do quadrinho underground e formou-se em jornalismo pela Universidade de Oregon. Com Palestina, ele ganhou o American Book Awards e o Prêmio HQ Mix 2000 de melhor graphic novel estrangeira. Palestina foi considerada ainda Melhor Nova Série pelos Harvey Awards (os Óscares na comunidade dos comics) e foi largamente mencionada em publicações como The Utner Reader e Washington City Paper.

É de Sacco, também, as reportagens em quadrinhos Área de Segurança: Gorazde e Uma história de Sarajevo sobre a Guerra da Bósnia. Mais recentemente publicou Notas sobre Gaza, que narra um fato histórico acontecido em 1956, data do assassinato de 275 palestinos em Khan Younis, vila na faixa de Gaza. Este constituiu-se mais num trabalho de historiador. O jornalista assina, ainda, outros trabalhos, sempre mesclando a história com os quadrinhos.

Na verdade, livros em quadrinhos começaram a ter sucesso nos Estados Unidos no início dos anos de 1990, a partir da publicação de Maus, de Art Spiegelman. O livro misturava cenários detalhados e elementos surreais para narrar a saga dos seus pais, que eram judeus, durante a II Guerra. Com seu livro, Spiegelman fez com que o mundo levasse a sério a possibilidade de fazer jornalismo em quadrinhos. Outro exemplo é a obra de Will Eisner, em que uma cidade inteira é desvendada sob ângulos insuspeitados no magnífico New York – The Big City.

Outros quadrinistas, como Keiji Nakazawa, também seguem pela mesma linha, com o tocante Gen – Pés Descalços – Uma história de Hiroshima. A obra é autobiográfica e foi lançada em quatro volumes. Trata-se da história do autor crescendo em uma família pacifista durante a Segunda Guerra e enfrentando a devastação física e espiritual causada pelo homem. Eletrizante e emocionante, a série tornou-se um dos maiores clássicos da narrativa sequencial japonesa, com mais de cinco milhões de exemplares vendidos e versões para cinema, desenho animado e até mesmo uma ópera.

Todos esses trabalho, outros que não citei – como O Fotógrafo, de Didier Lefèvre, que misturam fotos e quadrinhos, sobre a guerra do Afeganistão – e os que ainda estão por vir confirmam a possibilidade de unir duas linguagens tão diferentes como a do jornalismo e a do quadrinhos. Sobre isso, o jornalista José Arbex Jr, que foi meu professor na pós e assina o prefácio de Palestina – Uma nação ocupada, dá o veredicto certeiro:

... A notícia se nunca foi um “relato objetivo”, até porque, não existe a “linguagem objetiva”, hoje funciona apenas como uma peça de legitimação de determinada ordem ou percepção do mundo. Ela é um ingrediente do “grande show” transmitido diariamente pelos oligopólios da comunicação. Ao diluir as fronteiras entre os gêneros, ao tratar o mundo como show e o show como notícia, a mídia permitiu, em contrapartida, que outras linguagens, como a dos quadrinhos, reivindicasse para si o estatuto do jornalismo. E aí se resolve o impasse aparente.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vlado

Em sua 32ª edição, o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos recebeu, este ano, mais de 300 trabalhos – reportagens relacionadas aos direitos humanos – vindos de todas as regiões brasileiras. Os vencedores (confira no site http://www.premiovladimirherzog.org.br/), nas 10 categorias – rádio, jornal, TV reportagem, TV documentário, TV imagem, fotografia, arte, revista, rádio e internet – receberão o prêmio hoje, dia 25 de outubro, data em que se comemora os 35 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog.

Nascido Vlado Herzog, em 1937, na Croácia, Vladimir (nome adotado ao se naturalizar brasileiro) foi jornalista, professor e dramaturgo. Meu interesse por esse personagem da vida real surgiu quando era estudante de jornalismo, em 1979, quatro anos depois da sua morte misteriosa, nos porões do DOI-CODI, em plena ditadura militar.

Mas foi somente dez anos depois dos acontecimentos que eu pude compreender melhor sua história, ao ler Vlado – retrato da morte de um homem e de uma época, do jornalista Paulo Markun, que foi amigo de Herzog. O livro mostra quem foi Vlado, por que ele foi preso e o que acontecia no DOI-CODI, revelando como sua morte repercutiu dentro dos altos escalões do governo.

A obra traz ainda depoimentos daqueles que conviveram, pessoalmente ou profissionalmente, com Herzog, e informações colhidas de documentos oficiais, como o IPM – Inquérito da Polícia Militar, e notas em periódicos.

Vlado foi militante do PCB - Partido Comunista Brasileiro (que no período da ditadura era proibido, mas existia clandestinamente) e lutava abertamente pela restauração da democracia no país.

Em 1975, ele era diretor de jornalismo da TV Cultura, de onde foi convocado pelos agentes do II Exército a prestar depoimento sobre as ligações que mantinha com o PCB. Herzog compareceu no dia 24 de outubro ao DOI-CODI, local onde foi torturado. Junto a ele estavam os jornalistas George Benigno Duque Estrada e Rodolfo Konder, que confirmaram o seu espacamento.

No dia seguinte, Vlado foi encontrado morto, em sua cela, tendo um cinto amarrado ao pescoço, sugerindo suicídio, por enforcamento. Os militares apressaram em divulgar a foto de Herzog sem vida para justificar a causa da morte.

A sociedade, no entanto, não aceitou a versão oficial e saiu às ruas para protestar, tendo em vista haver várias inverdades, como o fato dele ter se enforcado com um cinto, objeto que os prisioneiros não possuíam. As pernas, além disso, estavam dobradas e no pescoço apenas duas marcas de enforcamento, o que supõe que sua morte deu-se por estrangulamento.

Vlado era casado com a publicitária Clarice Herzog, com quem tinha dois filhos. Tendo passado por maus momentos após a morte do marido, Clarice conseguiu que a União fosse responsabilizada, de forma judicial, pela morte de Vlado. Contribuiu para isso a mobilização da sociedade brasileira e da imprensa que, incorformadas com o regime, aceleraram também o início das discussões pela redemocratização do país.

Trinta anos após a morte de Vladimir Herzog e vinte anos da publicação do seu livro sobre o amigo, Paulo Markun lançou mais uma obra relacionada ao caso: Meu Querido Vlado, - que conta a história de Herzog e do sonho de uma geração, sob um ponto de vista bastante pessoal, apresentando relatos emocionantes e surpreendentes desde a época do jornalismo na TV Cultura até o suicídio forjado pelo regime.

Hoje, passados 35 anos da morte de Vlado, o país respira aliviado por não viver mais em regimes ditatoriais, como aqueles dos anos de 1970. No entanto a população deve estar sempre alerta, cobrando de seus governantes o compromisso com a democracia, exigindo seus direitos e o respeito para com a liberdade de expressão.

E que nunca mais a população brasileira passe por momentos nebulosos como aqueles, tão bem retratados na música O Bêbado e a Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, especialmente na estrofe:

"Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil... "

Para saber mais sobre Vladimir Herzog, acesse http://vladimirherzog.org/


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Pelo ciclo da cana-de-açúcar

Quando comecei a organizar minhas leituras no blog “Leituras que não esqueço”, espaço criado para anotar passagens marcantes das obras lidas, me confrontei com livros convividos há um bom tempo, fazendo com que uma gostosa nostalgia se apoderasse de mim. Foi como reler – e reviver – tudo novamente, relembrando até mesmo o momento vivido na época. Deu até vontade de reencontrar aqueles livros, alisar suas capas, folhear suas páginas, passear os olhos pelo texto, saborear mais uma vez suas histórias. É como rever um velho amigo, mais que isso, é como estar diante de si mesmo, encarando um outro eu, o eu que ficou gravado em cada folha do livro.

Dentre as leituras passadas, uma em especial me trouxe lembranças muito agradáveis, por fazer parte de um universo que muito me fascinou – e ainda fascina –, constituindo-se, ou melhor, dando sequência ao pilar que despertou de vez a paixão pelos livros em mim: Fogo Morto, de José Lins do Rego.

O livro é uma obra-prima do regionalismo brasileiro e fala sobre a decadência dos engenhos de cana-de-açúcar na região nordeste, retratada pelo autor de forma bem realista. Na verdade, este livro seguiu-se o chamado "ciclo da cana-de-açúcar", que começou com "Menino de Engenho", passando por "Doidinho", ambos de 1933, "Banguê" (1934), “O Moleque Ricardo” (1935) até chegar em "Usina” (1936). Fogo Morto foi publicado em 1943 e traz personagens mencionados nos demais livros.

Considero, este, o meu livro preferido, porque remete à minha adolescência, quando tinha de 14 para 15 anos, época em que passei a me interessar mais pela literatura, impulsionada, sobretudo, por uma professora de Português que tive no final do 1º e começo do 2º grau: Dona Rosemeire. Suas aulas eram magníficas, com leituras, exercícios de criatividade, apresentações de textos.

Fogo Morto é um romance dividido em três partes, cada uma com um protagonista e sua história, mas que ao final se entrelaçam. São eles: mestre José Amaro, coronel Lula de Holanda e capitão Vitorino, um dos melhores personagens já criados, uma espécie de "Dom Quixote" dos sertões. Simplesmente lindo! Suas aventuras e desventuras – talvez mais desventuras do que aventuras – me fascinavam e me faziam solidária a ele.

Menino de Engenho conta a história do menino Carlinhos, enviado depois da morte da mãe para o engenho Santa Rosa, onde será criado pelo avô e pelos tios. Ali acompanha um novo tempo de transformações econômicas e sociais, com a chegada das modernas usinas de açúcar. Quando atinge a idade escolar, vai para o colégio não mais como um menino ingênuo, mas já sacudido pelas emoções do corpo.

A história de Carlinhos prossegue em Doidinho, livro no qual o personagem passa para o internato, alimentando o desejo de voltar ao engenho Santa Rosa. Na escola conhece os bons e os maus, a amizade, o amor, os horrores, os castigos e a tirania do diretor. Começa assim a sua transição para Carlos de Melo e uma nova consciência social.

Em Banguê, Carlos de Melo, após terminar os estudos e formar-se em advogado, volta a viver no Engenho Santa Rosa. Ali encontra o avô doente e o engenho em situação precária.

O Moleque Ricardo situa-se fora do ambiente rural e narra a experiência do personagem que dá título à obra. Ricardo é um garoto que vivia no Engenho Santa Rosa, mas que o abandona seduzido pela vida na capital pernambucana. É o romance mais político de Lins do Rego e que aponta as desigualdades sociais e econômicas dos habitantes.

Usina, por fim,retorna à história do moleque Ricardo, agora de volta ao engenho Santa Rosa, depois de oito anos de ausência. Neste livro aparece também Carlos de Melo que, fugindo dos problemas em torno do engenho, entrega o patrimônio a parentes, tornando-se assim a Usina Bom Jesus.

O autor, José Lins do Rego Cavalcanti, nasceu eum Pilar, na Paraíba, e, ao lado de Graciliano Ramos e Jorge Amado, figura como um dos romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional. Otto Maria Carpeaux, conforme informações na Wikepédia, dizia que José Lins era "o último dos contadores de histórias".

Ele escreveu ainda outros romances e crônicas, mas foram os livros acima que li, pelo menos até hoje. E isso me faz lembrar que preciso acrescentar, na minha lista de livros a ler para o ano que vem, outras obras de José Lins do Rego e de seu mundo regionalista. Ainda bem que sempre é tempo de retomar nossas leituras.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sempre perto do livros

Para quem gosta de livros não tem melhor programa do que ir a livrarias, bibliotecas, eventos literários ou qualquer atividade do gênero. Pois é. Lendo o post da Lia, do blog Quero morar em uma livraria, escrito no ínício deste mês, identifiquei-me de imediato com suas peripécias pelo mundo da literatura.

Ela conta que, morando agora nos Estados Unidos, esteve visitando a Portage District Library, a biblioteca pública da cidade onde reside, para prestigiar o Book Sale, um evento especial de venda de livros. A visita rendeu-lhe boas compras, tanto para ela quanto para a filha, e o que é melhor a um preço bastante aprazível.

Não contente com esse fato e apesar do frio que fazia na cidade, ela e a filha foram para a Barnes & Noble, a maior livraria varejista dos Estados Unidos, com a desculpa de tomar um café, mas que ao final acabou se revelando em mais um motivo para adquirir novos livros. Não deu outra, mais uma compra impulsionada pela paixão literária. E pensei comigo:

– A Lia não tem jeito mesmo..., mas entendo, acho que faria o mesmo.

Aí lembrei que recentemente eu passei por uma aventura semelhante, mas com menos gasto.
Já há um bom tempo queria conhecer a Biblioteca de São Paulo, o espaço literário inagurado em fevereiro deste ano no local onde funcionava a Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo.

O projeto arquitetônico é bárbaro, com amplas janelas e portas de vidros, e por privilegiar o verde existente no lugar, um convite a caminhadas e ao lazer. Já o prédio da biblioteca em nada lembra os espaços austeros característicos desses locais. Com pufes coloridos e poltronas confortáveis espalhados pelo chão, a biblioteca tem cabanas coloridas no pavimento térreo, destinado às crianças e aos adolescentes. Aviõezinhos de papel em tamanho gigante, dependurados nos tetos, completam a decoração. Há ainda auditório para palestras e eventos e uma área externa coberta com café e espaço para apresentações artísticas.

No primeiro andar, destinado ao público adulto, há mesas de leituras, computadores e poltronas aconchegantes. Podem ser consultados livros e DVDs, dispostos com facilidade de acesso. É possível passar horas no local, lendo, descansando, sonhando, se emocionando.

Em rápida conferida pelo acervo vi muitos livros que desejo ler e muitos outros descobertos no calor da visita, mas como já tinha uma pilha de obras em minha casa, algumas de outras bibliotecas, contive meu ímpeto, mas marquei de voltar lá para fazer expressivos empréstimos.
Quando sai da biblioteca – estava com minha irmã e minha sobrinha – resolvi andar um pouco pelo parque, mas depois surgiu a ideia de irmos ao Shopping Center Norte, que fica naquela região. Fazia frio também e nos apressamos pelo caminho para espantar o mau tempo.

Ao chegarmos no shopping, a primeira coisa que me ocorreu à cabeça foi uma só:
Vamos à Saraiva? – eu sugeri, perguntando.
Mas acabamos de ver livros... – disse minha irmã.
Achei o fato engraçado, porque minha fome de livros, ainda que fosse só para vê-los não havia sido saciada. Então respondi:
É que eu ainda não a vi depois da reforma. Parece que o espaço ficou maior. Vamos, vai?
Está bem – ela concordou.

E lá fomos nós, de novo, mergulhar no paraíso dos livros. E que paraíso, porque a livraria ficou linda, bem distribuída, com lugar para shows e eventos culturais, um belo café, onde bebericamos algo, e um grande, mas grande espaço mesmo – térreo e superior – para prateleiras de livros e mais livros. Definitivamente nada mais me importava, eu estava realizada.


* A foto é de Mario Silva, produtor cultural da Biblioteca de São Paulo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Voltando a ser criança

Todo adulto guarda um resquício de criança dentro de si. Se não, pelo menos deveria. Coração puro, contentamento fácil e encanto pela vida são características infantis que todo ser humano deveria preservar. Pelo menos eu acredito nisso ou, então, eu queira justificar meu impulso consumista dos últimos dias.

É que, embalada pelo Dia das Crianças, resolvi me presentear e nada melhor do que livros para serenar meus ânimos. E não podia ser um livro qualquer, tinha de ser uma obra infanto-juvenil para ficar de acordo com as comemorações da semana.

Assim, comprei Caderno de Viagens da Pilar, um livro que é um convite à escrita. Trata-se das anotações de viagens de Pilar, uma menina muito divertida, bastante teimosa, que gosta de aventuras. E o melhor é que o leitor poderá também embarcar nelas, pois há espaços para escrever e registrar suas próprias lembranças e anotações de viagens.

O livro faz parte de uma série criada por Flávia Lins e Silva, jornalista, escritora, roteirista e documentarista. A primeira história foi Diário de Pilar na Grécia, seguida de As Peripécias de Pilar na Grécia, A Folia de Pilar na Bahia e O Agito de Pilar no Egito. O Caderno de Viagens da Pilar foi lançado recentemente e resolvi comprá-lo antes dos volumes iniciais talvez por oferecer a possibilidade de também fazer anotações no livro.

Além deste, encomendei ainda – e estou esperando receber – A Ilha de Nim, da escritora canadense Wendy Orr. Este foi indicação da amiga Michele, enquanto estávamos em uma fila de cinema aguardando para assistir Sherek e aproveitamos para falar de Harry Potter, O Senhor dos Anéis, Percy Jackson e outras obras do gênero.

O livro conta a história de Nim, uma menina que vive em uma ilha isolada com seu pai cientista, Jack, a iguana marinho Fred, a leoa marinha Selkie, a tartaruga Chica e uma antena parabólica para acessar seu e-mail.

Tudo corre normalmente até que o pai de Nim desaparece com seu barco a vela e Nim parte em seu resgate, contando com a ajuda de seus amiguinhos.

Mal posso esperar para ler esses livros, o que não deve demorar muito, ainda mais porque são curtinhos e fáceis de ler. Mas, a despeito dessa acessibilidade toda, o prazer e a emoção neles contidos, com certeza ultrapassam a quantidade de páginas impressas. São aventuras para soltar – e ficar – na imaginação.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Todo dia é Dia da Leitura

Para quem não sabe, o 12 de outubro, além de feriado por ser este o Dia da Padroeira do Brasil (Nossa Senhora Aparecida) e o Dia das Crianças é, também, desde o ano passado, o Dia Nacional da Leitura, conforme a Lei nº 11.899. E esta semana, de 11 a 17 de outubro, é a Semana Nacional da Leitura e da Literatura. Todas essas festividades serão coroadas, ainda, no final do mês com a comemoração do Dia Nacional do Livro, em 29 de outubro.

A instituição do Dia Nacional da Leitura foi uma iniciativa do Instituto Eco Futuro, uma organização não governamental, criada em 1999, cuja missão é “gerar e difundir conhecimento e práticas que contribuam para a construção coletiva de uma cultura de sustentabilidade junto a indivíduos e grupos sociais”.

A iniciativa teve início em 2006 com a ideia de incluir no calendário brasileiro um dia de mobilização nacional em que as leituras de literatura ocupassem vários espaços, como casas, bibliotecas, escolas, parques... tendo como objetivo incentivar a leitura desde a primeira infância, fazendo disso uma prática popularizada por todo o Brasil.

Várias atividades foram realizadas na ocasião, em parceria com a educadora Maria Betânia Ferreira (do blog Pingo é Letra), como cursos e leituras públicas e distribuição do Passaporte da Leitura com dicas de como instituir o hábito da leitura.

Para este ano, dentre as atividades desenvolvidas, está a do escritor e produtor cultural Laé de Souza, do grupo Projetos de Leitura e um dos parceiros do Dia Nacional da Leitura. Ele coordenará uma ação para divulgar, incentivar o hábito da leitura e facilitar o acesso ao livro. Para tanto, contará com o apoio da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) que disponibilizará 120 voluntários, estudantes do curso de Letras. Estes estarão, de 11 a 17 de outubro, distribuindo 600 livros em várias regiões da capital paulistana para leitores de toda as idades.

Os livros, “Nos Bastidores do Cotidiano”, de Laé de Souza, serão deixados aleatoriamente em pontos de alta circulação. Na capa do livro estará um folheto explicativo para que o leitor, após a leitura, deixe o livro em outro local para que outras pessoas também possam ter acesso a ele, criando assim um corrente de leitores.

Achei a ideia fabulosa e a iniciativa muito bem-vinda, mas é preciso não se esquecer de que todo o dia é Dia da Ler e que os livros devem fazer parte da nossa vida sempre, diariamente, constantemente. E viva a leitura!
Mais informações acesse: www.dianacionaldaleitura.com.br/2010/

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Leitura lenta, mas constante

Todo início de mês, alguns blogueiros costumam fazer um balanço das leituras realizadas no mês anterior, destacando quantos e quais livros leu. Fico admirada do fôlego desses leitores por dois motivos:

1. A quantidade de livros lidos, geralmente dez ou mais.

2. O livro lido, propriamente dito, quase sempre com mais de 300 páginas.

Além da admiração, porque muitos desses blogueiros são pessoas jovens, chego a ter uma "pontinha" de inveja, porque nem de longe passo perto dessa marca. Isso porque, na maior parte das vezes, minha medida não passa de dois livros. Tá, pode chegar a três, mas isto se os livros não forem muito volumosos, ou seja, não dispuserem muitas páginas.

Mas, para minha surpresa, o mês passado, devo dizer com todo o orgulho, li um pouco (só um pouquinho) mais, chegando à marca de 5 livros! Senti-me vitoriosa, acho que consegui empreender um ritmo bom nas minhas leituras, focando mais no ato de ler. Contudo, devo confessar que os livros não eram lá muito grandes, em média com 280 páginas, o que significa que o meu feito não foi tão “feito” assim..., mas eu chego lá.

Na verdade, já comentei neste blog que o meu processo de leitura é mais lento, fora que o tempo disponível que tenho para ler se restringe às minhas viagens de ida e volta ao trabalho, quando entro no metrô, e também logo após minhas aulas de yoga no Sesc, onde fico por mais uma hora na sala de leitura até dar a hora de ir para o serviço.

Também tem mais um adendo: eu gosto de ler devagar mesmo e por vezes chego a voltar algumas páginas para reler algum trecho que não ficou bem compreendido. É que tenho a impressão de que se deslancho depressa demais, a leitura rapidamente me escapará, bem como sua compreensão. Além do mais, é preciso uma pausa para pensar naquilo que se leu.

Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, já dizia que “quanto mais lemos menos rastro deixa no espírito o que lemos: é como um quadro negro, no qual muitas coisas foram escritas umas sobre as outras...”. Por isso, “... se lemos continuamente sem pensar depois no que foi lido, a coisa não se enraíza e a maioria se perde.”

Concordo com ele, pelo menos isso acontece comigo. Talvez por isso prefira ir mais devagar. Mas que fico com uma “pontinha” de inveja de quem lê muito, ah isso fico!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A voz do rádio

Considero-me uma pessoa moderna, atenta às novas tendências e tecnologias. Gosto de tudo o que é novidade e, na medida do possível, procuro me inteirar e aderir aos modismos. Mas, vez por outra me pego em antigas paragens e sem abrir mão de velhos e inesquecíveis objetos. É o caso do rádio, mais precisamente do radinho de pilha, aquele que a gente colocava em qualquer lugar para ouvir notícias, programas e músicas.

Há muito tempo deixei de ter um, mas pasmem (!) sinto falta dele, principalmente de manhã, quando sento para tomar café e fico ansiando por saber notícias, hora, previsão do tempo, tão bem propagdos pelas ondas sonoras da AM, é isso mesmo AM. Tá, tudo isso eu posso conseguir ligando o aparelho de som na FM, o rádio do celular, o MP3 ou mesmo sintonizando a televisão, mas, sinceramente, não é a mesma coisa, pelo menos para mim. Acho que falta aquele ar de intimidade que só um radinho de pilha e a AM podem oferecer.

Hoje, dia 6, faz dez anos do falecimento de Hélio Ribeiro, grande radialista, jornalista e narrador brasileiro, que fez muito sucesso nas décadas de 1970 com o seu programa “O Poder da Mensagem”, na Rádio Bandeirantes. A voz dele, de barítono, era inconfundível, e que inspirou Chico Anysio a criar o personagem Roberval Taylor, radialista que tinha aquele vozeirão sonoro e potente.

Em seu programa de rádio, Hélio Ribeiro apresentava crônicas, textos e mensagens e fazia traduções livres de música norte-americana e italiana. Era muito bom ouvi-lo e foi melhor ainda lê-lo, quando mais tarde seus textos foram organizados no livro O Poder da Mensagem, que descobri na década de 1980 e reli recentemente num ímpeto de saudosismo.

Dos textos contidos neste livro, destaco alguns trechos da mensagem “Receita incompleta para construir a paz de espírito”:

“...É preciso colocar amor nas coisas que se quer fazer e procurar amar as que se devem fazer, e nunca dizer que se fará amanhã o que não se achou justo fazer hoje.

...É de caráter não dizer de ninguém na sua ausência o que não se teria coragem de dizer frente a frente.

...É preciso aprender o que é bom, venha de onde vier, e disltingui-lo do mau mesmo que venha endossado por gente do mundo inteiro.”

Até parece autoajuda e pode ser até que seja, mas para mim é muito mais do que isso, as mensagens dele fazem bem e elevam a paz de espírito.

Para saber mais acesse: http://www.helioribeiro.com/v4/