quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Para falar de vidas

Quando o assunto é biografia, percebi que não li muita coisa do gênero até então. Não é que eu não goste, não é isso, é que talvez, por serem extensas demais – a maioria das biografias ultrapassa 400 páginas –, fui deixando para ler depois e quando me dei conta, acabei lendo muito pouco delas.

O Anjo Pornográfico: a vida de Nelson Rodrigues, de Ruy Castro, foi uma das que li. E, apesar de ter feito isso há um bom tempo e de não lembrar de muitas passagens, ficou registrada na minha mente e no meu coração como um dos mais belos trabalhos de reconstituição da vida de uma pessoa.

A história de Nelson Rodrigues é incrível, sofrida, inacreditável, mas também bela, comovente, emocionante. Me peguei várias vezes chorando entre uma passagem e outra, e ainda rindo, me encantando, aprendendo. Os diálogos e as cenas ali retratados são tão incríveis que muitas vezes chegamos a duvidar se realmente aconteceram, mas acredito que Ruy Castro, meticuloso e cuidadoso como ele é, não poderia ter inventado tudo aquilo. Foram centenas de entrevistas, com 125 pessoas, que conheceram intimamente Nelson e sua família.

Outra biografia que li, mas esta bem menor, em quantidade de páginas, foi Vlado – Retrato de um homem e de uma época, organizado pelo jornalista Paulo Markun. Na verdade, não sei se chega a ser considerada como uma biografia, mas faz uma boa reconstrução da vida de Vladimir Herzog, jornalista que foi preso, torturado e assassinado no Doi-Codi, em São Paulo, em 1975. Ao ler esse livro, fiquei perplexa com os horrores cometidos durante a ditadura militar e com a injustiça e a violência cometidas para com Vlado.

Acho que foram só essas duas que li.

Só?!?
Ontem, 1º de dezembro, ao pensar sobre o assunto, lembrei de mais duas, e uma delas por causa da coincidência da data. É que o 1º de dezembro foi escolhido como o Dia Mundial de Combate à Aids.

Qual a relação?

Bom, eu explico.

Lembro de ainda ter lido mais dois livros sobre a vida de duas personalidades, estas ligadas à música brasileira. Mas que na realidade não sei se poderiam ser consideradas como biografias, mesmo porque as duas obras fazem parte de uma série idealizada em 1996 pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e pela Secretaria Municipal de Cultura, e produzida em parceria com a Editora Relume Dumará. Trata-se da Série Perfis do Rio, da qual li Chico Buarque, escrito por Regina Zappa (já cheguei até a comentar neste blog), e Renato Russo, de Arthur Dapieve. Este último, como todos sabem, morreu por causa de complicações decorrentes da Aids, em 1996.

Renato Russo e sua Legião Urbana foram, para mim, aquilo que de melhor surgiu no cenário roqueiro da década de 1980 e da música brasileira. Ler sua história foi compreender a alma criativa, poética, brilhante, mas muito sofrida de um dos mais importantes nomes da nossa cultura.

O livro fala sobre sua família, a relação com esta, o início da sua trajetória pela música, suas influências, seus interesses, a formação da banda e a convivência com os integrantes, os shows, as músicas, o sucesso, a doença e a morte. Tudo tratado com muito cuidado e delicadeza para dar uma pequena dimensão de quem foi Renato Russo.

Para mim, no entanto, ficou a certeza de que muito mais do que o ídolo, naquelas páginas reconheci o ser humano, o homem, a pessoa que, semelhante a qualquer uma de nós, queria muito ser feliz. É impossível não se emocionar.

3 comentários:

  1. Aiiiiiiiiii, eu amavaaaaaaaaaa legião...Preciso ler esse livro!! :)

    beijinhos

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  2. Isso, Ciça! Isso...
    Não consigo explicar... Muita gente diz que é fanatismo, exagero, loucura, bobagem, burrice. Eu não sei e deixo quem quiser falar que fale... Mas o fato é que eu tenho paixão por Renato Russo e sua Legião. Desde pequena... Já li muitos livros sobre ele e acho que isso que você diz, de entender o que se passa e tal... Acho que isso faz muito sentido.
    Aliás, preciso encontrar o livro citado... hehe... Esse eu ainda não conheço...

    E eu AMO biografias... Acho extremamente necessárias... E deve ser uma delícia escrevê-las! Você já imaginou o trabalho? Vixe... rs

    Beijos, querida! Amo esse seu espaço... Me faz bem...

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  3. Eu adoro biografias..li várias; essa do Renato Russo, da Maysa, Chatô (Assis Chateaubriand), Maria Antonieta, Chanel, Danuza Leão..e estou com várias para ler: Mauá, o imperador do Brasil, de Grace Kelly, Lady Di, Pablo Neruda...são várias na lista. Mas a mais desejada ainda não tenho, que é a mais nova biografia da Clarice Lispector!

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