terça-feira, 24 de novembro de 2009

Fã e ídolo


Os cabelos ficaram grisalhos, o rosto traz as marcas do tempo, a voz parece um pouco embriagada e o andar está mais lento. Mas para uma pessoa que já passou da casa dos 60 anos, o olhar manso e penetrante mostra que o brilho da juventude ainda está muito vivo no mineiro que se tornou escritor, dramaturgo e jornalista. Falo de Mário Prata, o grande cronista brasileiro, pai de Antonio Prata, também escritor.

Sentado em meio a estantes de livros infantis, na companhia dos escritores e jornalistas Xico Sá e Matthew Shirts, e do escritor Reinaldo Moraes, estes dois últimos seus amigos de longa data, com os quais viveu coisas “confessáveis e inconfessáveis”, Mário Prata foi a estrela maior da mesa sobre boemia e literatura da Balada Literária que aconteceu na Livraria da Vila. E não poderia ser diferente, já que a maioria estava ali para vê-lo, por isso, as histórias contadas, mesmo pelos seus companheiros, giravam em torno de Prata.

Acomodada em uma cadeira na segunda fileira do espaço improvisado para o bate-papo, uma vez que a Livraria estava às escuras, em razão das chuvas que caiam no dia, eu alternava a atenção entre a fala dos convidados e as expressões das minhas amigas Gil e Daiana, que se encontravam cada qual ao meu lado. Gil ria e se divertia com as tiradas de Prata, mas Dai, que literalmente acabara de chegar de Curitiba para prestar um concurso no dia seguinte, tinha os olhos vidrados em seu grande ídolo cronista. Sua emoção era visível, mas ela soube dominá-la o suficiente para ser a primeira a fazer uma pergunta a Mário Prata, notar seu interesse e ouvir sua resposta com atenção.

Depois disso, pegar o autógrafo no livro Minhas Tudo e tirar uma foto ao lado dele foram consquências naturais, mas não menos prazerosas. Na verdade, eu diria inesquecíveis, porque saímos de lá com Daiana flutuando debaixo da chuva que persistia em cair impiedosamente. Ela se importava? Acredito que não, acho que até mesmo nem sentia os fortes pingos molharem sua cabeça e seu corpo. Fã é assim mesmo, não se incomoda com nada, desde que o desejo de ver e estar com seu ídolo sejam plenamente satisfeitos.

Essa emoção que se sente perto de alguém que se admira muito é bem interessante e difícil de explicar, em palavras escritas ou não. Sei bem o que é isso e entendo a reação de Daiana depois que viu Mário Prata. Eu mesma passei por uma emoção semelhante quando estive em Paraty, o ano passado, e fiquei frente a frente com Neil Gaiman, o rei dos sonhos. A emoção é mesmo indescritível, é como se você se visse fora de si mesma, planando levemente, mas com firmeza pelo espaço, indefinidamente, sem se preocupar ou pensar em nada, apenas sentindo aquela sensação boa, de plenitude, de prazer intenso e sem fim. Nada existe fora dali, nada mais tem importância, a alegria é real, completa, total e absoluta.

A felicidade que experimentei em Paraty com Neil Gaiman e que Daiana também sentiu na presença de Mário Prata são, com certeza, uma daquelas emoções que fazem realmente a vida valer a pena.

5 comentários:

  1. Que texto incrível! Adorei! Sério, Ciça, acho que nunca saberei agradecer você e Gil pelo o que fizeram por mim... E foi bem isso mesmo... Quando você falou sobre a sensação de estar perto de um ídolo, imaginei que citaria Neil Gaiman... rs... Lembro de quando me contou das horas de espera por um autógrafo e do desenho que ele fez para você, no livro... É bem isso mesmo, essas sensações e momentos fazem a vida valer a pena...
    Grande beijo, querida!
    Foi ótimo rever vocês!
    E o convite estará sempre em pé...

    ResponderExcluir
  2. Cecília,
    Sempre passo por aqui, pois adoro seus textos. Você nos leva para dentro da história, da situação... Faz a gente imaginar cada detalhe. É muito bom. Parabéns!
    beijo
    Érika

    ResponderExcluir
  3. E, no fim, a vida vale a pena quando reunimos um baú bem grande de memórias boas e emoções sentidas. Beijos!

    ResponderExcluir
  4. o Mário Prata é realmente uma simpatia,outro puro! pena que o Xico Sá desapareceu diante de tanto brilho...
    adorei ter testemunhado tudo isso!

    ResponderExcluir
  5. Quero medir sua pulsação quando estiver frente ao Johnny Depp!

    ResponderExcluir